REPORTAGEM SOBRE FELICIDADE INDIVIDUAL OU NO CASAMENTO PUBLICADA HOJE NO JORNAL DIÁRIO DA REGIÃO - NO CADERNO VIDA E ARTE.
Muitas pessoas acham que só podem ser completas e felizes se tiverem um parceiro. Mas considerar que um relacionamento será fonte segura de felicidade é um erro. A felicidade
nunca é propriedade da outra pessoa, ou seja, cada um tem força suficiente de ser feliz
independente do outro. Aquele que acredita que colocar uma aliança no dedo anelar da mão
esquerda é garantia de um final feliz, é justamente quem mais tem chance de se decepcionar e
sofrer.
É muito perigoso, de acordo com o psicólogo e psicoterapeuta Renato Dias Martino, depositar todas as expectativas. “O casamento pode ser uma fonte de felicidade quando fizer parte de uma construção desse estado de espírito. Nada que é real pode trazer certa fonte inesgotável de felicidade. Uma união feliz só se dá entre pessoas que criam situações felizes.”
A felicidade é da pessoa que a experimenta e nunca está depositada numa outra. A felicidade
está relacionada ao bem-estar individual, que se prova em maior ou menor grau e em diversas situações e decorrente de inúmeras situações desencadeadoras. “A felicidade plena é praticamente inafiançável, mas sua ideia é tão envolvente que nos impulsiona a crescer e querer nos relacionar com a finalidade de provar, mesmo que em parte, suas delícias e prazeres”, afirma
Ana Monachesi, psicóloga e especialista em sexualidade.
Para Ada Maria de Assis e Silva, educadora, gestora de negócios e personal coach, o melhor caminho para ter momentos de felicidade é o autoconhecimento, o diálogo interno, a autoestima, a opinião e o sentimento que temos de nós mesmos, de como somos capazes de respeitar, confiar e gostar de nós mesmos. “Somente quando temos uma elevada autoestima podemos fazer boas escolhas nos nossos relacionamentos e manter nossas relações saudáveis.”
De acordo com Ada Maria, a felicidade plena e absoluta não existe. Também não existe
receita, manual que possa dar garantia plena de viver 100% feliz. A busca é por mais momentos
de sensação de felicidade. “Descobrindo nossas necessidades, nossas metas, como e quando
alcançá-las, saber reconhecer limites, respeitando e se fazendo respeitar, sabendo nos
diferenciar do outro, é um começo. E nessa busca, cabe a cada um criar sua receita e escrever
seu manual do que é sua própria sensação de felicidade”
Segundo Martino, podemos melhorar nossas uniões responsabilizando-nos por nossa própria tristeza e retirando da mão do outro a tarefa de nos fazer feliz. “É preciso tentar tolerar as tristezas ou intemperanças do outro em prol da união, respeitando a necessidade de cada um em
ficar algum tempo sozinho.”
Martino diz que para aumentar a felicidade e estimular o mesmo sentimento no parceiro
é preciso propor a si mesmo um modo feliz de viver, ou seja, uma vida onde exista espaço
para momentos felizes, que serão assim valorizados e cultivados.
“Para compartilhar isso com o outro, é necessário que ele também espere isso para si,
do contrário, será difícil viver a felicidade ao lado de alguém que não é capaz.”
A base para um bom casamento, de acordo com Ada Maria, é ter os mesmos valores e
propósitos. Senão, cada um vai para seu canto, porque as expectativas individuais são diferentes.
“Manter um casamento não é fácil, exige tempo, disposição e concessões. Busque sempre
conversas francas, saiba ouvir com atenção e sem julgamentos, respeite opiniões divergentes
e invista no relacionamento diariamente. Mantenha o afeto e tenham sempre um propósito comum.”
Dê atenção aos ‘processos internos’
Neste cenário, a psicóloga e terapeuta sexual Claudia Longhi Ercolin diz que ação gera
reação. “Se sinto coisas ruins, atraio coisas ruins. Se estou bem e sinto coisas boas, é como
se o cosmos conspirasse a seu favor, irá atrair coisas boas.”
Casamento não é sinônimo imediato de felicidade; cada pessoa é responsável por descobrir dentro de si este sentimento, através de escolhas que vão desencadear ou não o sucesso da relação Quem depende do outro para ser feliz, em geral, tem autoimagem distorcida e tende a se desvalorizar constantemente, como se precisasse provar a si mesmo e ao outro seu pouco valor. O que está fazendo, sem saber, é se programando para que a vida não dê certo, pois se acostumou ao sentimento de menos valia dentro de si. Ao voltar-se para dentro e conhecer quem é, você começa a compreender que pode fazer tudo o que decide fazer. Ter atenção com seus processos internos é fundamental, pois lhe permitirá dar conta de como interpreta o que acontece na vida. “É preciso mudar as crenças. E essa mudança começa de dentro para fora”, diz a psicóloga e especialista em sexualidade, Ana Monachesi.
Mudança
Depois de aceitar o fato de que não existe unanimidade, parar de se preocupar com o que as
outras pessoas irão pensar, descartar as perguntas que levam às respostas inúteis e usar a imaginação criativa a favor, é necessário aproveitar o melhor das relações. Para isso, são necessárias ações como manter o diálogo aberto e estar atento às mudanças no relacionamento.
“É preciso buscar soluções que envolvam as duas partes”, diz Ana.
Para quem quer ser o proprietário da sua felicidade e não deixar que o casamento naufrague, o
correto é não depositar o sucesso do relacionamento nas mãos do outro, mas envolver-se nesta busca todos os dias de forma intensa, aprendendo com os acertos e erros, o que favorece a união e estabilidade do relacionamento e convencer- se que nos relacionamentos ninguém é o único responsável pelas dificuldades.
De acordo com a especialista, não é porque casamos ou nos unimosa alguém que nossos desejos
passam a ser apenas aqueles que combinam com a outra pessoa.
“Os dois devem ter a possibilidade de demonstrarem e usufruírem de suas próprias preferências
(desde uma preferência culinária, estilo de música, amigos, lugares para se divertir) sem que isso seja visto como traição pelo companheiro. Ter algumas atividades individuais serve, muitas vezes,para unir ainda mais o casal.”
Ajuda
Para Ana Monachesi, a infelicidade é uma condição humana, mas quando ela é tão forte e perceptível em alguém a ponto de chamar a atenção, deve-se incentivar esta pessoa a procurar ajuda profissional, pois pode ser indicativo de complicações psíquicas maiores do que uma simples tristeza ou pessimismo. (FM)
Felicidade é uma experiência individual
Uma pesquisa publicada no Journal of Personality and Social Psychology reforça a tese
de que casamento não é prova de felicidade. Segundo o estudo, a maioria dos recém-casados
vive uma ligeira euforia após o casamento, mas seu nível de satisfação com a vida tende
a retornar ao que era antes do casamento.
Durante mais de 10 anos, pesquisadores avaliaram 24 mil pessoas, a cada ano, por meio
de entrevistas e questionários, aos quais foram atribuídos notas de zero a 10. O resultado mostrou que a média de ontentamento originado do casamento foi muito pequena, ou seja, 0,1 na escala.
Os cientistas afirmaram que os resultados basearam-se na média e que a felicidade é uma experiência individual, refletindo o fato de que o casamento pode ser muito agradável e gratificante, mas tem potencial para ser muito estressante.
De acordo com Dorian Solot, cofundador da “Alternatives to Marriage Project”, da Universidade Rutgers, o casamento não é a cura para todos os males. “Não há bilhetes mágicos para a felicidade. Os sinos do matrimônio podem trazer felicidade para algumas pessoas, mas a verdadeira felicidade está dentro de cada um e na sua própria vida, não no estado civil.” (FM)
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