sábado, junho 23, 2007

CUIDADO COM AS ESTRELAS


Cuidado com as estrelas


Os coaches agora calibram a arrogância dos jovens talentos

Por José Eduardo Costa

A história tem se repetido nas empresas. Um jovem é contratado e logo identificado como um talento ou high potential, como se diz no jargão corporativo. Mas, apesar da rápida demonstração de eficiência, o profissional, em geral na faixa dos 25 a 35 anos, é imaturo para o cargo que aspira — ou que a companhia vislumbra para ele. Tudo porque não sabe calibrar a agressividade, a arrogância e a tolerância, colocando em risco sua trajetória na organização. Se fosse apenas um caso, a área de recursos humanos ou o próprio chefe daria conta do recado para colocá-lo na linha.Mas como há uma safra de jovens talentos nas corporações tendo sucesso, apesar desses probleminhas, cada vez mais essa turma recebe um tratamento especial e individual: é acompanhada por um coach ou treinador, para usar o termo correspondente em português.
Até então, um programa de coaching, que ajuda um executivo a se preparar para o próximo passo na carreira, só estava disponível nas empresas brasileiras para altos executivos. Os primeiros coaches começaram a aparecer por aqui no final da década de 1980 e se popularizaram entre presidentes e diretores nos anos 90. Levado, ultimamente, às esferas intermediárias da estrutura organizacional, o coach precisa quebrar algumas resistências."Nenhum dos jovens profissionais admite, no primeiro instante, que tem pontos fracos", diz o consultor de carreira Augusto Carneiro, da consultoria Zaitech, do Rio de Janeiro. "Isso ocorre mesmo eles sabendo que a companhia os enviou porque identificou a necessidade de aperfeiçoar as competências em que são piores."

Por causa dessa birra quase juvenil, a primeira sessão de coaching serve para quebrar o gelo. Nela, o treinador procura convencer o executivo de que para seu trabalho dar resultado o discípulo precisa "comprar a idéia" do programa. Augusto conta que ouviu recentemente de um executivo: "Eu não sei se você será capaz de entender meu problema". O consultor então revelou que estudou no MIT, a tradicional escola de engenharia e administração dos Estados Unidos, e fez carreira em diversas multinacionais antes de se tornar coach. Ou seja, conhecia bem os meandros da vida executiva.

A batalha inicial para envolver os jovens talentos nesses programas implica convencê-los de que não terão êxito como líder só com o conhecimento técnico. "Eles não percebem que a partir de um determinado nível seu sucesso depende do desempenho de outras pessoas", explica o consultor e coach Carlos Diz, do Instituto de Liderança Executiva, do Rio de Janeiro. Só quando o discípulo baixa a guarda e compra essa idéia é que começa o coaching.
No programa, as aptidões gerenciais são divididas em dois tipos: as de gestão de si próprio e as de gestão dos outros. No primeiro grupo entram o autoconhecimento, capacidade de autocrítica, autoconfiança e equilíbrio emocional. No segundo grupo estão a empatia, comunicação, influência e a capacidade de desenvolver pessoas.

As sessões iniciais são dedicadas a balancear as emoções."O equilíbrio emocional é a base para toda mudança de comportamento", diz Carlos. O coach vai percebendo como o executivo reage a diferentes situações a partir de relatos do dia-a-dia do profissional. E, então, começa a lapidar os seus pontos fracos. As sessões servem como orientação para a prática no cotidiano. "O coach só funciona com repetição", diz Augusto. O executivo tem alta quando começa a ter feedback positivo de seus pares e subordinados para as competências que está trabalhando.

O coordenador de produção da fabricante de peças automotivas Eaton, o paulista Leônidas de Souza, de 35 anos, teve de recorrer a um coach para administrar seu temperamento explosivo. Como nem sempre conseguia verbalizar o que queria da equipe, assumia uma postura agressiva para obter os resultados que desejava. "Chegou um momento em que as pessoas me diziam qualquer coisa, independentemente de estar certo ou errado, para se ver livres de mim", diz. No coaching, Leônidas treinou técnicas de comunicação e aprendeu a dar e receber feedback. Hoje, ele se policia para não estourar com a equipe.

Nos últimos tempos, o número de coaches tem crescido de forma exponencial. Ficou mais dificíl separar os bons dos maus profissionais. A Federação Internacional de Coach tem cerca de 7 000 associados, que atuam em 29 países. Infelizmente, não existem profissionais certificados pela federação no Brasil. Ainda assim, há bons coaches brasileiros credenciados por instituições internacionais, como é o caso dos consultores ouvidos pela reportagem. A saída para não pegar um picareta é checar as referências do profissional e até conversar com gente que recebeu suas orientações. No entanto, antes de começar o coaching, vale a pena se perguntar: estou mesmo disposto a mudar?

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