terça-feira, maio 08, 2007

NA PONTA DO LÁPIS


Na ponta do lápis
Em entrevista ao BOM DIA, Gustavo Cerbasi, consultor financeiro e escritor, mostra como planejar gastos sem afetar a relação do casal

Thomaz Vita Neto/Agência BOM DIA

O consultor financeiro e escritor durante palestra em Rio Preto, na semana passada

O endividamento atingiu, em março, 62% da população do Estado de São Paulo que ganha entre três e dez salários mínimos, segundo pesquisa do Fecomércio. Gastos e dívidas sempre dominam a pauta de preocupações no cotidiano familiar, sendo muitas vezes o ponto de partida para recorrentes crises.

Para o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor de vários títulos na área, a população é inábil em lidar com dinheiro e falta diálogo e reconhecimento das diferenças no casal – o princípio para uma vida econômica organizada. “Você não pode convencer seu companheiro a mudar seu jeito de pensar sobre dinheiro. A conversa transparente é a melhor forma de unir forças e dividir sonhos e realizações”, destaca Cerbasi em entrevista ao BOM DIA.

Entre os desafios que impendem muitos de popuar, o consultor destaca o próprio desprezo do brasileiro por pequenos valores, tanto na hora de gastar como na hora de planejar as finanças.

Pesquisas mostram que a cada dia aumenta o número de pessoas endividadas. A que atribui isso?

Gustavo Cerbasi - Falta de conhecimento, falta de cobrança da sociedade que não vê a dívida como um problema e uma eficiência muito grande no marketing das empresas que vendem crédito e serviços de financiamentos.

Como deve ser feito o planejamento para equilibrar as contas?

Gustavo Cerbasi - Deve começar pelo exercício mais básico que é o de colocar as contas na ponta do lápis todos os meses. Criar hábito de solicitar sempre os comprovantes de compras e guardar esses comprovantes em uma pasta ou gaveta e, uma vez por mês, analisar os gastos. Se mesmo assim a família entrar no vermelho, o controle deve passar a ser quinzenal. Certamente, essa prática é suficiente para o controle do orçamento doméstico.

Quais os erros mais comuns que impedem as pessoas de poupar?

Gustavo Cerbasi - Principalmente o desprezo por valores pequenos tanto na hora de gastar como na hora de planejar as finanças e falta de planos a longo prazo. Os anos de inflação alta e descontrolada afetou a confiança do brasileiro em estabelecer projetos para o futuro. O consumidor também tem certa incapacidade ou dificuldade na hora de negociar, barganhar, pechinchar.

Como resistir às tentações de gastar?

Gustavo Cerbasi - Cerbasi: Ir às compras sabendo quanto tem para gastar, pesquisar preços em várias lojas, pechinchar, barganhar, espremer ao máximo vendedores e gerentes de lojas para chegar ao menor preço. A dica mais importante, porém, é tomar a decisão de compra fora da loja, que é um ambiente de sedução. Chegou ao melhor preço, bateu o martelo, pede cinco minutos para pensar fora da loja e só aí tome a decisão. Pesquisas indicam que quando o consumidor sai do ambiente de compras, mais da metade das compras acima de R$ 200 são abandonadas.

Como o casal deve agir para evitar que crises financeiras destruam o relacionamento?

Gustavo Cerbasi - Em primeiro lugar muita conversa. Conversa sobre dinheiro, conversa sobre sonhos. Em segundo lugar entendimento que as pessoas são diferentes. Você não pode convencer seu companheiro a mudar seu jeito de pensar sobre dinheiro. A conversa transparente é a melhor forma de unir forças e dividir sonhos e realizações.

Como os pais devem agir para que os filhos sejam prósperos financeira-mente?

Gustavo Cerbasi - Envolvendo os filhos em questões financeiras, dando a eles liberdade para falar sobre dinheiro. É preciso tirar dúvidas, deixar o filho manipular dinheiro, mesmo os mais novos podem pagar contas e solicitar descontos em balcões de lojas. A prática da mesada desde que os pais mostrem que ela não é um presente e sim uma transferência de responsabilidade. É importante romper com o tabu de que crianças não devem participar das finanças da família.

Há idade para que os pais comecem a educar os filhos para as finanças?

Gustavo Cerbasi - A melhor idade é quando os filhos querem ser iguais aos adultos, por volta dos dois, três anos. Essa projeção faz a criança ficar muito atenta às recomendações e orientações que os pais dão.

Como as escolas podem participar da educação financeira das crianças?

Gustavo Cerbasi - A educação financeira deveria entrar na escola de maneira indireta. Professores bem orientados poderiam incluir atividades financeiras nas disciplinas já existentes. Também poderiam ser feitos eventos, debates entre pais e professores, pais e alunos, para discutir dificuldades financeiras. A escola hoje já tem condições de proporcionar uma boa educação financeira, infelizmente o professor está despreparado para lidar com o assunto.


4/5/2007

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