quinta-feira, outubro 19, 2006

LIDERANÇA:É MAIS FÁCIL ADMINISTRAR INCOMPETÊNCIAS!

Liderança: é mais fácil administrar incompetências!
Eugênio Maria Gomes

Há algum tempo, quando da preparação de um módulo sobre Gestão de Recursos Humanos, precisamente em relação ao papel desempenhado pelo líder na nova modalidade de gestão, pus-me a divagar sobre o tema, baseado na teoria lida a respeito do assunto e, principalmente, na minha experiência administrativa, ao longo de 25 anos, período em que venho atuando na área gerencial.
Liderei os mais diversos tipos de colaboradores e convivi com os mais diferentes tipos de lideranças. Cheguei à conclusão que, de fato, liderar não é uma tarefa muito simples.
- Grande descoberta, professor Eugênio, brada o meu crítico "Eu" interior.
- Todo mundo sabe que liderar é algo complicado, que exige Atitude, Conhecimento e Habilidade, pilares da famosa Competência, sem a qual não se imagina a existência de nenhum líder, em nenhum tipo de negócio.

No entanto, tenho percebido que liderar incompetências parece ser algo muito mais simples. O gestor de incompetências reclama o tempo todo de seu pessoal, dos prazos não cumpridos, dos relatórios malfeitos. Ele não delega, não compartilha decisões e parece estar sempre muito, muito ocupado.

Via de regra, não se preocupa com o treinamento de seus liderados, tampouco lhes proporciona oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal. Porém, há algo de que ele gosta muito: do "presencismo".

Presencismo é o reverso da medalha do "absenteísmo". Trata-se daquele funcionário que parece trabalhar as 24 horas do dia. Sua presença, na organização, é quase integral. A todo o momento, sempre que você o procura, lá está ele, a postos, independente da carga horária estabelecida para o seu trabalho.

Ele não consegue entender que, nesta nova modalidade de gestão, todo ocupante de cargo de chefia é, de fato, um gestor de pessoas. Ele se esquece que seus subordinados diretos também gerem pessoas e que estes, conseqüentemente, passam a atuar, da mesma forma que o seu "chefe direto" atua, disseminando assim o processo de liderar incompetências por todos os outros gerentes da organização.

O líder das incompetências não reconhece, no funcionário, um colaborador, mas tão-somente, um cumpridor de ordens. Não o vê como parceiro, mas, como mais um recurso da administração. Aliás, recurso mal-utilizado, que não consegue trabalhar em equipe, que adora fazer uma fofoca e apontar erros... Principalmente quando não são os seus próprios!

Quando falamos em Gestão de Pessoas, a própria etimologia das palavras GESTÃO e PESSOA, nos leva a entender a grandeza desta missão. Gestão é proveniente do latim gestione, significando administração, direção. Pessoa é proveniente do latim persone, significando personagem, individualidade.

Assim, é possível entender o conceito de Gestão de Pessoas: significa administrar individualidades. Colocar em prática este conceito não é certamente uma tarefa muito simples. É preciso ver o funcionário como uma pessoa, dotada de valores e defeitos, com seus sonhos, seus sentimentos e seus problemas. A partir deste conhecimento, é preciso fazer desabrocharem no colaborador, a competência e o talento. E administrar o bom, o fora de série, o colaborador talentoso, não é fácil. Pelo menos não o é para os gerentes inseguros, para os que têm medo de implementar mudanças, de formar uma equipe e deixar que ela trabalhe.

É difícil sair de férias e perceber que o trabalho desenvolveu-se, sem problemas; que, aparentemente, sua ausência não se fez sentir e que alguém, desinformado, poderá pensar que seu trabalho, sua presença, é prescindível.

Ser líder de líderes, de equipes talentosas, não é fácil... É mais fácil ser líder de incompetentes e fazer com que os outros pensem que você faz uma falta muito grande...
Ainda bem que este tipo de liderança tem vida curta... Juntamente com a organização que o mantém, é claro.
Bem, eu já estou vestindo a carapuça...

Eugênio Maria Gomes
Engenheiro e professor da Faculdade de Ciências Administrativas de Caratinga.



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