Acídia – Sétimo pecado capital
A idéia de pecado sempre acompanhou nossa educação e norteou, de alguma maneira nossas ações. A psicologia sempre negociou com essa idéia traduzindo o pecado na falta de bom senso e coerência para se afastar do religioso. Não podemos falar de pecado sem repensarmos seus significados paralelos à idéia de contravenção. Se analisarmos sobre a ótica da estrutura de personalidade e como o ser humano necessita dos seus recursos emocionais para ser feliz e podemos dizer que o pecado é a negação da coerência humana, do respeito próprio e principalmente da falta de limites. Os vícios ou pecados capitais sempre foram de interesse e preocupação, tanto para os religiosos como para os que estão longe de se ajoelhar e se converter. A Acídia, antes de ser um pecado, é uma condição. Para os católicos, ela representa a preguiça muito mais da alma que resiste a ser crédula do que do corpo que não quer sair da letargia; para os pensadores, a Acídia é mais que isso. Ela representa a negação do movimento, do crescimento emocional, da pro-atividade. Mais atual que nunca, a Acídia atravessou séculos e estacionou representada pela estagnação, a falta de compromisso ou de comprometimento. Sociedades inteiras valorizam a iniciativa e a pro-atividade como ícones do sucesso e desenvolvimento pessoais, exorcizando modelos arcaicos de servidão e descrença pessoal. No entanto precisamos ir além dos modelos profissionais e entender que não existe espaço para a Acídia na conquista da realização pessoal. Ser ou estar realizado envolve movimentos que o individuo tem que fazer rumo aos seus objetivos, necessidades e desejos. Parece fácil, mas essa caminhada diária envolve determinação, persistência e, principalmente autoconfiança, que são qualidades flutuantes na maioria das personalidades. Tais qualidades somadas são capazes de transformar o individuo em um vencedor, mas separadas podem determinar o fracasso de muita empreitada. Paralisados por sua mesmice, muitos indivíduos passam anos lamentando seus desafetos, tentando encontrar culpados e algozes que justifiquem seus sofrimentos. Sem se dar conta de que são protagonistas de suas mazelas, a maioria dos insatisfeitos segue entorpecido pela impossibilidade de conquistar seus objetivos e atribuindo a tudo e a todos os seus fracassos.
São Tomás de Aquino, em sua doutrina sobre os sete pecados capitais, dedicou atenção especial à Acídia quando entendeu que os desdobramentos deste comportamento eram extremamente perversos. Desespero, angústia e ansiedade são sentimentos que acompanham aqueles que se vêem incapacitados de cumprir seus objetivos e realizar seus sonhos. Esses indivíduos não entendem quão impossibilitantes são os seus poucos recursos e como poderia ser sua vida se estes fossem desenvolvidos. O papel da psicoterapia é destituir o indivíduo de sua mesmice e ajudá-lo a desenvolver seus recursos emocionais e alcançar seus objetivos.Para tanto, é necessário que esse individuo queira ultrapassar seus entraves, reconhecer suas limitações, assumir suas necessidades de uma maneira sincera e honesta. Ser feliz é uma construção que passa pela educação e pelos recursos emocionais que se desenvolvem em cada personalidade. A condição financeira é um facilitador, não um determinante.
Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo - CRP06/16669
Silvana Martani
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