Vazio pode ser falta de incentivo ao espiritual
São José do Rio Preto, 22 de setembro de 2006
Cecília Dionizio
Há quem passe a vida sem entender o motivo de nunca se sentir pleno. De fato, este é um sentimento único, e só o conhece quem se entrega de corpo e alma ao autoconhecimento, por meio da abertura para compreender melhor o âmbito espiritual. Desta forma é natural encontrar respostas para a razão da própria existência neste plano. Este conceito foi difundido pelo mestre espiritual Osho, morto em 1990, que em todos os livros que escreveu ao longo de sua vida, sempre provocava as pessoas a refletirem sobre a razão de estarem aqui. Muitas delas, segundo ele, não se encontram nunca, porque não têm referência de si mesmas, pois se sujeitam a representar um papel, “usam máscara” e nunca entram em contato consigo mesmas. “As pessoas tolas perguntam sobre Deus, as inteligentes, sobre a morte. As que vivem perguntando sobre Deus nunca O encontrarão, mas as que perguntam sobre a morte com certeza sim...”, dizia Osho. E por acreditar tão intensamente nisto, ele influenciou toda uma geração a encontrar a respostas que hoje a mantêm em harmonia. “Em vez de, simplesmente, vender a alma, essas pessoas aprenderam a viver de verdade”, diz ele no livro do Viver e do Morrer, relançado no Brasil, pela editora Cultrix. Para o mestre espiritual, a vida só vale a pena quando se é uma pessoa total, que leva em conta além do corpo e da mente, a alma. “As máscaras não podem amadurecer. São falsas. Por trás delas você fica escondido, e não cresce. Você só pode fazer isto, quando aceitar a si mesmo”, define Osho.Há quem busque nos gurus espirituais as respostas que estão dentro de si. Por não entender que a vida é um ciclo, por vezes, quando sofre uma perda importante, a pessoa pára no tempo e deixa passar diante dela a oportunidade de restabelecer contato com uma nova era. Independente da crença, há uma certeza, nada é eterno, exceto a alma. E é dela que se deve cuidar com carinho e afeição. De acordo com o rabino Henry Sobel, em entrevista a uma revista da comunidade judaica, “a tentação de brincar de Deus é forte. Há um quê de arrogância em reduzir o mistério da criação a uma experiência de laboratório. A clonagem de seres humanos toca uma nota dissonante no coração de todos aqueles que acreditam numa força criadora, quer a chamemos de Deus ou não.”Para o psicólogo Enio Brito Pinto, de São Paulo, de maneira geral, quando a pessoa persiste no vazio, significa que há algum potencial a ser desenvolvido, ou que já poderia ter sido. “Isto, provavelmente, não aconteceu por uma série de circunstâncias, algumas das quais de responsabilidade da pessoa, outras por impossibilidades da vida”, observa. Segundo o psicólogo, desenvolver este potencial vai dar trabalho, pois implica lidar com perdas. Daí, a dificuldade e a opção, às vezes, da pessoa ficar com o vazio, ou tentar preenchê-lo com ocupações, na busca de soluções mágicas, como que delegando a responsabilidade do que acontece aos outros. Todavia, na maioria das vezes, essas atitudes só ampliam o vazio, e podem até terminar em depressão. “Nem sempre a pessoa precisa de ajuda para dar conta desse vazio: basta a coragem de ser e de ousar viver com criatividade e segundo seus próprios e viscerais parâmetros”, afirma.
Serviço
Ada Maria de Assis e Silva, coach, de Rio Preto, fone: (17) 3234-7422, 32251830 www.officinadocoach.blogspot.com
Ênio Brito Pinto, psicólogo e prof. do Instituto Gestalt de São Paulo, fone: (11) 3842-8939 -
site: www.gestaltsp.com.br
Pratique a aceitação diária
O psicólogo paulista Ênio Brito observa que nenhuma perda se dá sem dor. Ele afirma que há uma ilusão nas pessoas, hoje em dia, que se pode viver sem sofrimento e sem dores, o que é um absurdo. Brito concorda que amar é delicioso, mas dói; conviver é ótimo, mas é arriscado; viver é uma graça, mas é inseguro. “E ao não se dar conta disto, a pessoa não consegue aceitar que viver é inseguro, que a vida é essencialmente imprevisível, e tenta se apegar ao que tem ou já teve ou viveu, por medo da dor. Então passa a cultivar dores crônicas, infelicidades invejosas, amarguras venenosas”, diz. Se por outro outro lado, buscar a cada dia, a confiança de que está fazendo o que de melhor pode perceber, e aprende a reconhecer honestamente e sentir gratidão pelas conquistas, por menores que sejam, então a pessoa passa a ter maior facilidade para dizer os "adeuzes" que a vida exige. “Ela sabe que dói, mas sabe também que a dor de crescer é, ao mesmo tempo que inevitável, extremamente enriquecedora e de resultados prazerosos”, afirma Brito.
Segundo a especialista em trabalhar com pessoas, no sentido de ajudá-las a encontrar um foco para a vida, a coach Ada Maria de Assis e Silva, de Rio Preto, explica que para lidar com aquela sensação de desconforto que nasce de um desejo indefinido, cuja origem pode estar na dificuldade de lidar com perdas, ou ainda, a falta de vínculos mais profundos, “não há outro caminho, que não seja o esforço pessoal, que passa pela aceitação da realidade, como ela é”, diz. Ada diz ainda, que isto implica reconhecer um erro ou uma imprevisibilidade, mas, acima de tudo, agir em cima da realidade, definir o que será feito como próximo passo e agir conforme a decisão tomada. “E é nos momentos de transição que se deve trabalhar o desapego do velho e se preparar para receber o novo. Ao entender que a nova jornada está nas palavras-chaves aceitação e ação, tudo fica mais fácil”, finaliza.
Garanta o seu bem-estar
Aumente o autoconhecimento e encare algumas crenças que limitam o seu crescimento e podem mudar você. Esta é a chave de uma vida com mais qualidade e coerência Para entrar em contato com o próprio interior e com fantasmas internos é possível utilizar algumas ferramentas:
Deixe de esconder certos aspectos internos que não gosta, com medo dos outros enxergarem você como de fato é.
Busque em situações anteriores de vitória pessoal, coragem e reforço para encarar novos desafios.
Busque aprender sempre, pois o ser humano tem uma capacidade natural para aprendizagem. A dor provocada por aprender algo novo é superada pelo prazer que se tem em desenvolver todo potencial.
Participe de cursos e treinamentos que desenvolvam novas habilidades; leia artigos relacionados a desenvolvimento pessoal; assista a filmes ou vídeos que promovam a reflexão pessoal e novos conhecimentos.
Inicie um processo de coaching (orientação) para descobrir o que o impede de crescer, seus valores e defina metas claras para o futuro.
Para o psicólogo Ênio Brito, não há resposta pronta, nem genérica para quem busca o bem-estar interior. Até porque ele provém da sensação de que se está usando ao máximo todos os potenciais com os quais se nasceu.Provém, também, de se reconhecer que a vida não é capaz de satisfazer todos os nossos desejos e, portanto, é necessário que se aprenda a lidar com as frustrações de cada dia, sejam grandes ou pequenas. O bem-estar interior depende da confiança de que a vida faz sentido. Bem-estar é intimamente ligado à confiança de que se é digno de amor e de que se sabe amar. E pode ser tanto maior quanto mais desapegada é a pessoa, de aspectos materiais e de conquistas pessoais, pois a vida é um constante refazer, é um eterno gerúndio, é um presente (nos dois sentidos da palavra, o tempo verbal e o dom/bem oferecido) sem fim.
Fontes - Ada Maria de Assis e Silva, coach, de Rio Preto e Ênio Brito Pinto, psicólogo da linha Gestalt
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