Como se desenvolver profissionalmente sem perder a cabeça
Gisela Kassoy
Vendedores transformam-se em consultores de vendas. Hoje, os auditores são professores. Chefes viraram líderes. A intenção não é apenas mudar o nome. Existe uma mudança (ou um desejo de mudança) nas empresas que é muito mais profundo.
E como se livrar do velho jeitão de ser? Será que é preciso mesmo desaprender? Não se pode aproveitar nada? Talvez, a primeira mudança devesse ser na forma como entendemos desempenho. Observe os novos paradigmas que influenciam nossas carreiras:
Não existe chegar lá
Nosso know-how precisa estar em evolução constante, clientes demandam tratamento personalizado, as circunstâncias externas variam e são, muitas vezes, imprevisíveis. Não se pode, portanto, achar que temos o domínio total sobre nossa capacidade de realizar determinadas tarefas. Precisamos analisar nossa carreira como um processo em evolução contínua.
Não é preciso ser bom em tudo
Pelo contrário. Uma autocrítica brincalhona ajuda o ambiente e estimula a participação dos demais. Se fôssemos bons em tudo, não necessitaríamos trabalhar em equipe. Um profissional maduro entende que existem algumas competências que ele domina, outras não. Ele não teme, mas respeita quem tem as competências que lhe faltam.
Sinergia
Não podemos mais lidar separadamente com cada tarefa e cada habilidade. Em vez de sofrer com a falta de tempo, podemos optar pela sinergia entre executar e aprender, executar e delegar e até entre várias tarefas, inclusive as sociais e familiares.
O paradoxo autoridade/fragilidade
Segundo a lingüista Deborah Tannen, especializada nos modelos masculinos e femininos de expressão, o comportamento dos homens é baseado na autoridade, ou seja, busca fazer-se respeitar, exalar poder. As mulheres, por sua vez, buscam ser queridas, sendo simpáticas, ouvindo seus interlocutores. Não é difícil ver uma mulher confidenciando suas inseguranças ou sendo modesta, ou seja, exibindo sua fragilidade.
Não é à toa que:
* as mulheres tiveram grande dificuldade de ascensão, pois eram tão gentis com todos que ninguém as imaginaria como chefes;
* as mulheres hoje são, cada vez mais, disputadas no mercado de trabalho, inclusive para cargos de poder.Hoje, a postura ideal harmoniza autoridade e fragilidade Saber usar esses paradoxos ampara o trabalho em equipe, desenvolve liderados e gera profissionais confiáveis.
Baseado nesses paradigmas,veja como você pode classificar seus desafios em diferentes zonas e assim analisar sua carreira. Observe com cada zona merece um tratamento diferenciado -
Tente descrever seu cargo.
Quais são as tarefas que a empresa espera que você realize? Aquelas que você domina, que são fáceis e imprescindíveis determinam a sua zona de brilho, portanto seja bom e mostre que é bom. Nada de humildade aqui. Afinal, não é devido a essas habilidades que você foi contratado? Mesmo no trabalho em equipe, numa crise você tem mais autoridade do que os demais, no que for sua zona de brilho. Não deixe de ouvi-los, mas permita que sua opinião valha mais.
Continue prensando na sua descrição de cargo. As que são imprescindíveis, mas difíceis, seja por serem novas ou porque você realmente não está preparado determinam a sua zona de empenho, o que você precisa melhorar, portanto esqueça as justificativas. Jamais alegue que essas competências não são necessárias. Tampouco finja que sabe o que não sabe. Nada mais desastroso do que um profissional se comportar como se soubesse as necessidades do cliente. Outro exemplo: nada de dizer para as chefias que "se vira" no inglês. Volte ao curso.
O que é fácil e delegável determina sua zona de conforto - O que é delegável precisa ser delegado, nem que seja à tecnologia, a um office-boy ou a um vizinho. A não delegação das tarefas que você domina, podem dificultar sua ascensão, se você continua a usar seu tempo exercitando-as. Não fique refazendo relatórios só para não ter tempo para se preparar para a apresentação, por exemplo.
O que é difícil e delegável determina a sua zona de condescendência - Sua atitude aqui é: "não sei, nem quero saber". Mas não tenha raiva de quem sabe. Pelo contrário, valorize e esteja próximo de quem sabe. Enquanto líder, delegue por exemplo, "a aquela pessoa que é tão boa em computação gráfica", em vez de dizer que não tem tempo para ficar escolhendo figurinhas. Cuidado com o que você coloca na zona de condescendência, pois com certeza nessa competência você será cada vez pior.
O que é fácil mas não pertence ao seu cotidiano profissional, como as tarefas domésticas ou hobbies, determinam a sua zona de familiaridade - Digamos que você .joga futebol. E daí? Daí que você desenvolveu, visão periférica - o que o permite olhar diretamente para alguém e, ao mesmo tempo, perceber o que se passa à sua volta, treinou o espírito de equipe, não se intimida com a concorrência. Aproveite essas habilidades. Faça com que elas sejam percebidas. São elas que o tornarão insubstituível. Outras fontes importantes de aprendizados transferíveis são as artes, o trabalho voluntário e a própria vida em família.
Crie também uma zona de curiosidade, atividades que estão fora do seu cotidiano pessoal e profissional. Todo o mundo deve, de vez em quando, fazer algo completamente fora de sua rotina. Visitar galerias de arte e faça turismo em países exóticos. A zona de curiosidade estimula a criatividade e a abertura para o diferente, coloca-nos na postura de aprender a aprender, revitaliza. Jamais despreze as idéias que você teve fora do ambiente de trabalho. Elas tendem a ser as melhores.
A análise dessas zonas requer uma certa frieza: é muito fácil perceber como importantes apenas as habilidades que você domina. O ideal seria elencar as competências junto a seu chefe, a sua equipe ou aos seus clientes. Dado o dinamismo das organizações, suas tarefas e a importância delas talvez mudem com muita freqüência. É bom estar constantemente classificando suas as diferentes zonas para estar atualizado.
Classificando suas tarefas em diferentes zonas, você pode fazer planos de desenvolvimento para você ou para sua equipe. Para carreiras como um todo ou apenas para um desafio específico. O que importa é conhecer os conceitos. E, evidentemente, executar os planos de desenvolvimento advindos dessa classificação.
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