quarta-feira, maio 29, 2013

SUSTENTANDO LIMITES


 






Artigos
 
São José do Rio Preto, 29 de Maio, 2013 - 1:40
Sustentando limites

Ada Assis e Silva


“As crianças começam amando os pais; depois de um tempo julgam-nos; raramente - se 
é que algum dia o fazem - perdoam-nos.”. Li esta citação de Oscar Wilde há 20 anos no
livro do psicólogo e psiquiatra infantil austríaco Bruno Bettlehein - “Uma vida para seu 
filho”. 
A princípio fiquei incomodada com tal pensamento, mas depois, refletindo sobre minha 
própria relação com meus pais desde a infância, adolescência e fase adulta, a frase me 
pareceu de uma verdade absoluta e me acompanha desde então. Posso afirmar hoje que
perdoei meus pais ao longo dos anos que pudemos conviver tanto através das experiências
que vivi e vivo como mãe,  quanto da oportunidade de ver meus pais agindo como avós 
amorosos e sábios com meu filho. 
   Como educadora  e coach encontro cada vez mais crianças, adolescentes e adultos que 
sofrem ao tentar se adaptar à dinâmica da vida,  pela falta de valores e propósitos claros 
e também porque não foram limitados na realização de alguns desejos. A interdição, ou 
seja, a possibilidade de renunciar à satisfação de um desejo exerce a função estruturante 
do psiquismo, portanto, a importância dada à imposição de limites é inegável nos dias 
atuais. Além da tão conhecida indisciplina, desrespeito, inversão de valores e o aumento 
da violência conhecidos na fase infantil e na adolescência pela falta de definição de limites
, algumas fronteiras definidas devem ser aplicadas também nos relacionamentos entre 
adultos, seja  nas relações de amizade ou no ambiente profissional. Em todos os locais de 
trabalho, para um determinado  comportamento necessário à realização de uma meta 
organizacional, as pessoas podem ser divididas em três grupos.

  O primeiro grupo é composto pelos que têm vontade e capacidade de executar e de agir 

de forma a contribuir  positivamente para o objetivo pretendido pela organização.
O segundo grupo é formado por aqueles que não estão dispostos a contribuir para a desejada
meta da organização, mesmo que tenham capacidade para fazê-lo. O terceiro grupo fica no
meio: são os que às vezes estão dispostos e, às vezes, tem competências e habilidade para
contribuir para o crescimento da organização. Quando não há limites estabelecidos e as pessoas
estão autorizadas a agir da  forma que lhes convier, o grupo que não tem disponibilidade  
e geralmente ultrapassa o grupo que está disposto e capaz.
    As pessoas tendem a priorizar os possíveis benefícios pessoais de fazer o que lhes agradar, 
 do que focar-se nos benefícios ganhos pelo trabalho em grupo. Quando os limites são 
fixados com consequências para quem infringi-los, o grupo com vontade e capacidade 
tende a superar o grupo dos “eu e meu umbigo”, e as pessoas que formam o terceiro 
grupo tendem a querer tornar-se mais dispostas ou mais capazes para evitar as consequências. 
A organização deve estabelecer políticas e normas para a imposição e manutenção de 
 limites. As políticas devem ser curtas e claras, devendo haver uma clara consequência 
definida no caso do seu não cumprimento. Caso contrário, a eficácia das políticas como 
imposição de limites estará comprometida. 
  As organizações que estabelecem limites e garantem seu cumprimento, acabam por 
premiar as pessoas que estão dispostas e capazes a se esforçar para atingir os objetivos 
da organização. Elas também motivam as pessoas que estão incertas quanto a vantagens 
ou desvantagens em se disponibilizarem para um bom trabalho de equipe e a desenvolverem
novas capacidades para alcançar as metas necessárias. Além disso, as pessoas perceberão 
mais rapidamente se seu perfil se encaixa ao exigido pela empresa, e caso não se sintam 
envolvidas e comprometidas a contribuir, busquem organizações que tenham exigências mais  adequadas à sua capacidade e vontade.
Dar às crianças as habilidades para lidar com o mundo à sua volta é tarefa para os pais, cuidadores,
e educadores. Isto trará reforço para o desenvolvimento de uma autoestima elevada, 
equilíbrio emocional e resiliência para o indivíduo em sua vida adulta.

ADA ASSIS E SILVA
Coach; Rio Preto

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