Executivos procuram cada vez mais os serviços do coach para descobrir suas qualidades e defeitos. Você deixaria de fazer consultas sobre as suas dúvidas com o travesseiro para fazê-las com um desconhecido chamado de coach?
Parece estranho, mas o instrutor se transformou no novo investimento de muitos executivos. Talvez o seu chefe, ou um colega de trabalho, tenha escapulido alguma vez de uma reunião com a desculpa de que tinha de ver o seu coach. Comece a se acostumar. Um número cada vez maior de executivos requer os serviços de um profissional que lhes ajude tirar o máximo de si mesmo. Não se trata de um mentor, nem tampouco de um amigo ou psicólogo. É um coach (instrutor). Esta figura surgiu nos Estados Unidos há mais de duas décadas e agora não há executivo que preze que não tenha freqüentado uma sessão de coaching.
Na Espanha, país em que se conhece este serviço há apenas alguns anos, esse profissional ainda não está tão divulgado, e nem é tão profissionalizado. Nos Estados Unidos existem várias escolas formadoras de coach (a mais popular é a International Coach Federation). Já na Espanha, o número de coaches portadores de diploma é pequeno em comparação com todos os que dizem sê-lo e exercem essa atividade - a maioria é composta de ex-executivos de grandes empresas, ou professores de faculdades de administração de empresa.
Segundo Eva López-Acevedo, diretora executiva da Escola Européia de Coaching, que prepara os futuros instrutores de executivos, "ainda estamos muito longe do que acontece nos Estados Unidos. Mas as empresas na Espanha que já travaram conhecimento com o coaching perceberam sua importância para o desenvolvimento do profissional".
Altos executivos de bancos como BBVA, Santander ou Banesto, de empresas fabricantes de produtos farmacêuticos como Glaxo ou Pfizer e da empresa de telecomunicações Vodafone, entre outras, já sabem o que é contar com um coach.
A moda da assessoria pessoal chegou também à televisão. A cadeia Quatro, controlada pela Sogecable, transmite um reality show chamado "A Casa de Cristal", no qual seis mulheres convivem em uma casa sob a orientação de um coach que elabora os objetivos de cada uma delas.
É muito difícil que dois executivos tenham a mesma opinião ao responder à pergunta: para que serve o coach? Cada experiência dá uma resposta diferente. Encarna Guirao, diretora de Recursos Humanos da empresa de alimentação Hero, diz que "é uma forma de corrigir os seus erros". Javier García, diretor de comunicações da Telefónica Móviles, afirma que serviu para que "melhorasse as relações com minha equipe". O coach não sugere fórmulas mágicas para sua gestão. O seu trabalho principal parece ser o de que cada um pesquise e reflita sobre o seu dia-a-dia e sobre a forma de se relacionar com o seu trabalho, segundo descrevem muitos executivos que assistiram a sessões de coaching. Muitas vezes, o coach nem sequer opina. O seu trabalho é fazer as perguntas básicas ao seu pupilo, ou formular pautas para reflexão.
Em sessões que costumam durar uma hora e meia e são realizadas a cada duas semanas (segundo o esquema habitual), a pessoa assessorada fala 90% do tempo. Ele mesmo olha para dentro de si para enxergar suas fraquezas, decide como melhorar suas carências e se propõe atingir uma série de metas. O coach se limita a fazer uma pergunta de vez em quando e a vigiar que o executivo cumpra, entre uma sessão e outra, os objetivos a que se propôs.
"As metas devem ser simples para que o executivo as cumpra sem problemas", diz Roberta Vicente, coach da consultoria de recursos humanos Instituto de Liderança. Desta forma, se o executivo decidir que quer superar sua timidez, o seu desafio pode consistir em tomar café todas as manhãs com sua equipe, por exemplo. Ou, se quer administrar melhor seu tempo, sua meta pode ser reduzir o tempo das reuniões.
Um dos problemas que assinalam alguns executivos que passaram por este processo é que em algumas ocasiões surgem assuntos estritamente pessoais. De fato, alguns se mostram muito reticentes em contar sua experiência no coaching já que, por exemplo, segundo uma delas, "foi uma experiência em que saíram histórias íntimas". "Não é de se estranhar que entre os aspirantes a coach o número de psicólogos esteja em alta.
O coach pode chegar a cobrar mil € 1 mil por uma sessão de uma hora e meia. "Minha empresa gasta mais de 150 mil das antigas pesetas para que conte minha vida a um tio que não conheço!", pensará mais de um. Mas esse valor é até considerado baixo em comparação com a forma de cotar esta profissão no outro lado do oceano: um coach pode chegar a cobrar até € 6 mil por uma sessão de uma hora e meia nos Estados Unidos.
É praticamente impossível medir de modo quantitativo o retorno do investimento no instrutor de executivos. Segundo o diretor de desenvolvimento executivo da companhia, Bridgette Robinson, a experiência foi tão positiva que "estes trabalhadores têm mais possibilidades de conseguir uma ascensão do que os que não participaram do processo".
"Óscar Sánchez, diretor de zona do Banesto, começou com o seu coach em junho de 2005 quando era diretor de sucursal. Mal concluiu o processo, que durou 10 meses, Sánchez foi promovido ao seu posto atual. "Sei que a visão que tinha do meu pessoal na empresa mudou em decorrência do que aprendi no processo, e ajudou na minha promoção", afirma o executivo. O caso de Sánchez é uma exceção.
Segundo María García Ruiz, diretora da Capital Humano, da Creade, filial da consultoria de recursos humanos Adecco e membro do conselho de administração da Associação Espanhola de Coaching e Consultoria de Processos, "o modo de medir a utilidade deste processo são as opiniões dos companheiros de coachee (pessoa que recebem o coaching".
Gazeta Mercantil - 25/01/2007
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