Eugen Emil Pfister Júnior
Seguem algumas considerações úteis para as organizações que estão prestes a enfrentar um grande desafio, tal como aumentar em 12% a produtividade ou incrementar as vendas anuais em 20%.
Aposto que uma das sugestões mais queridas e defendidas pelos teóricos de RH é motivar o pessoal. Nada mais natural. A sabedoria popular reza que pessoas motivadas são mais produtivas. Difícil discordar, não é verdade? Porém, a questão é que a motivação ajuda, mas não é a solução para os problemas competitivos enfrentados pelas organizações, ou alguém acha que é possível otimizar no espaço de um ano a produtividade em 12% e as vendas em 20% na base do entusiasmo?
Contudo, a idéia de obter ganhos substanciais de produtividades através de uma campanha motivacional tem um custo baixo e atraente. Um dia, uma palestra, um palestrante e abracadabra, a tropa está pronta para a ação. Um dia desses ouvi o presidente de uma empresa comemorar que a taxa de serviços remunerado naquele ano foi de 61%, contra 56% do ano anterior. Palmas da platéia. Era um feito uma vez que muitos clientes resistiam à idéia de pagar integralmente pelos serviços de assistência técnica executados. Entendiam que eles fazem parte do pacote de benefícios atrelados à compra de equipamentos e know-how.
Mas o melhor estava por vir. No próximo ano ele apostava numa melhoria de 80%. Perfeito! O público aplaudia, dava vivas e comemorava a vitória antecipadamente. A fórmula apresentada foi batizada de MAC (Motivação + Atitude + Comprometimento). Ah, se fosse assim tão fácil... todos estaríamos no paraíso, dado que a concorrência também tem acesso aos mesmos desejos e gurus da motivação.
Acreditar que uma organização pode ser mobilizada a favor de um desempenho superior em bases contínuas, a partir da exortação moral é tão plausível quanto acreditar que os problemas econômicos da antiga URSS podiam ter sido resolvidos com mais esforço e dedicação por parte dos aparelhos burocráticos do Estado e dos trabalhadores. Nada mais falso. O efeito de uma oratória inflamada é igual a fogo de palha, queima rápido e forte, mas logo vira cinza. Com o tempo, e com resultados minguados, nem adianta assoprar que a velha chama não reascende.
O que não é um problema se a sua meta é aumentar as vendas na próxima semana ou deixar os funcionários com melhor astral nos próximos trinta dias. Contudo, se a sua empresa está às voltas com metas audaciosas, a história e os remédios são outros.
Tendo iniciado a minha carreira em RH confesso que tive alguma relutância em admitir que a motivação não é a causa da produtividade, mas antes, um efeito dela. Uma centena de indivíduos apenas motivados não move montanhas. Centenas de pessoas organizadas, com planos, conhecimentos técnicos e funções definidas, equipadas com tratores, explosivos, enxadas, picaretas, pás e tempo necessário darão conta do recado, mesmo que muitos, ao acordar, prefiram estar se bronzeando na praia a remover montanhas.
Sem competência, recursos, produtos, método, estratégias consistentes e trabalho intenso, os resultados não surgem, e sem eles não há sucesso e nem grande motivo para nos sentirmos motivados.
O gerente não precisa esperar que a equipe esteja motivada para depois iniciar o trabalho. Se estiver, melhor! Mas o fato é que no trabalho há dois tipos de profissionais: os que são automotivados e os que seguirão o processo independente das variações do seu estado anímico.
A gestão da performance superior requer que se invista nas premissas que conduzem aos resultados desejados: metas, planos, recursos, organização, disciplina etc. O simples desafio motivará parte da "tropa". A outra metade se sentirá motivada na medida em os desafios vão sendo vencidos, os clientes se mostrarem satisfeitos, os concorrentes apreensivos e os empregos garantidos.
Em síntese, trabalho, mesmo que motivado, é uma coisa, trabalho produtivo é diferente. Gerentes eficazes conhecem a diferença e, por isso, prestam menos atenção à retórica e cuidam dos resultados. E, depois, as únicas pessoas que estarão desmotivadas com o nosso sucesso são os nossos concorrentes. É como disse antes, por bem ou por mal, o que motiva são os resultados e a sensação de fazer parte deles.
Eugen Emil Pfister Júnior é sociólogo por formação e consultor especializado em programas de management coaching & assessment.
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