Há duas semanas tive a oportunidade de mais uma vez participar da Career Fair, evento organizado pela Revista Você SA. É sempre um prazer fazer este trajeto de 450 km entre minha cidade e São Paulo capital, porque recarrego minhas baterias e fico próxima do que realmente anda acontecendo no mundo moderno e que em breve chegará a minha cidade no oeste do estado.
Como educadora e coach, as palestras apresentadas tratando de liderança e principalmente de planejamento de carreira foram de grande interesse e me trouxeram novos conceitos e formas de repensar meu próprio plano de ação para os próximos cinco anos, talvez dez, e também ter mais ferramentas para a orientação dos meus coachees.
Na palestra do consultor Pedro Mandelli, reconheci um personagem que atua nas organizações e na vida em geral que ele muito perspicazmente chamou de “o anestesista”. De acordo com Mandelli, o anestesista é aquela pessoa que sempre se aproxima de você e lhe aplica uma injeção de desanimo, desmotivação e que possui poderes paralisantes. Este personagem ataca principalmente quando vê a vitima sozinha, pois esta se torna um alvo fácil, e faz comentários negativos sobre a palestra, curso, reunião, treinamento, vídeo ou projeto que ambos participaram ou participam juntos. Ele amortece a energia da gente. Também existem os amigos anestesistas, os pais anestesistas, o professor anestesista, a esposa anestesista e em tempos de emancipação feminina e grande participação feminina no mercado de trabalho encontramos finalmente: o marido anestesista.
Como boa observadora, procurei nos dois dias do evento, identificar nos meus colegas de sala o que os levara até ali. Seria a busca do conhecimento? A oportunidade de ouvir pessoas mais experientes? Conhecer palestrantes famosos? Buscar mentores que os levasse a desenvolver mais competências? Ser atingido por um “insight” revelador e iniciar uma mudança pessoal e profissional? Ou simplesmente porque a empresa o escolheu para participar do evento?
Após ter conhecido pessoas de diversas áreas e trocado cartões com participantes de diferentes regiões do Brasil durante os dois almoços, me sentei ao lado de um “anestesista” durante a palestra de Gustavo Cerbasi. O personagem em questão, chegou logo depois que eu já estava sentada, e esparramou-se em sua cadeira ocupando o espaço dele e metade do meu. Para minha sorte estava sentada na ponta da mesa e portanto fiquei com metade do corpo no corredor. Depois de resmungar um pouco com os colegas de empresa, meu vizinho resolveu que aquele “mocinho” não tinha nada para lhe ensinar, e começou a ler a revista Exame que tinha recebido gratuitamente da organização do evento (provavelmente nunca a teria comprado). Dessa forma, também tomou todo o meu espaço na mesa de apoio ao se debruçar e começar a folhear a revista, o que começou a me causar desconforto físico, além do emocional que eu já estava sentindo. Como não havia lugares vagos, resolvi tolerar a grosseria, e buscar tirar algo de bom daquela experiência infeliz.
O personagem anestesista protagonizou então algumas investidas em seu colega de empresa que sentava ao seu lado tentando tirar sua atenção da palestra e convence-lo que ouvir sobre carreira e dinheiro não valia a pena. A vítima argumentou que a palestra estava interessante, e ficou entre ceder ao anestésico e começar a ler ou conversar, ou resistir ao assédio e continuar prestando atenção na palestra, quando foi salvo pelo gongo do celular do anestesista que tranquilamente atendeu a chamada e saiu da sala atrapalhando a platéia e quase me derrubando da cadeira.
Ufa! Que alívio, pensei, provavelmente junto com seu colega, que se arrumou na cadeira e procurou prestar mais atenção nos sábios conselhos de Gustavo Cerbasi de como administrar pequenas quantias e ficar rico. Mas, ele voltou! Novamente se desmanchou na cadeira, novamente se debruçou sobre a mesa e voltou a ler sua revista enquanto tentava mais uma vez demolir seu colega da idéia de aproveitar bem o evento pelo qual sua empresa havia pagado uma quantia significativa. Mais uma vez o celular tocou, mais uma vez ele se levantou, e então no limite de minha tolerância mudei-me para um lugar atrás do cameraman que filmava o evento pensando em pelo menos ouvir o palestrante, apesar de não poder vê-lo.
Durante a palestra de Pedro Mandelli comecei então a reconhecer algumas características do meu vizinho inconveniente. Descobri, então que além do anestesista, aquela pessoa que além de não ir para frente puxa todo mundo para trás, o cara era um dinossauro. Você com certeza não é um deles, mas conhece alguém com as seguintes características:
- Mantêm-se passivo e indiferente ao mundo externo;
- Constrói um mundo em torno de si, para evitar contatos com o ambiente;
- Reduz suas forças de ataque conforme as ameaças do ambiente;
- Não reagente, não adaptativo, não inovativo;
- Está sempre procurando alguém culpado pelo seu insucesso;
-Acredita que a empresa é responsável pela sua carreira;
- Sente-se injustiçado, pois ninguém lhe perguntou se deseja as mudanças próprias da dinâmica do mundo atual;
- Detesta tecnologia.
Para meu alívio, concluiu-se no final do evento que os dinossauros estão em extinção e sobreviverão somente em curto prazo. Se você mandou algum de seus colaboradores para a Career Fair 2006, procure rapidamente identificar se meu vizinho anestesista está entre os escolhidos de sua empresa, e coloque-o imediatamente a disposição do mercado. Não vai ter empresa de outplacement que dê jeito!
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