Pecado capital
Inveja
São José do Rio Preto, 14 de junho de 2009 - Diário da Região
Francine Moreno
Orlandeli/Editoria de Arte
00:40 - Protagonizada por reis soberbos, princesas chatas, ladrões torpes e animais sagazes em livros infantis, a inveja, um dos sete pecados capitais, não está apenas na ficção. Na história da humanidade, está presente e nunca produziu heróis, somente vilões: Caim, que matou Abel; Antonio Salieri, que não suportou a genialidade de Wolfgang Amadeus Mozart; Satã, anjo invejoso do paraíso, e tantos outros. Cobiça, olho gordo ou mau-olhado, não importa o nome, a verdade é que a inveja, um vírus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes, assusta. E há quem acredite que esse desejo de possuir aquilo que é do outro ou ter o desejo que o outro não possua aquilo que é invejado, tem o poder de prejudicar conquistas, energias e planos. O filósofo Arthur Shopenhauer já dizia que sentir inveja é humano, gozar do infortúnio dos outros é diabólico. Para ele, não há ódio mais implacável que o da inveja. Zuenir Ventura, em seu livro “Inveja - O Mal Secreto”, de forma prática, faz uma distinção clara entre a inveja e outros sentimentos característicos do ser humano.
Ciúme é querer manter o que se tem, cobiça é querer o que não se tem e inveja é querer que o outro não tenha. “Para alguns autores, não existe a inveja construtiva ou branca. Este seria o sentimento de admiração que se tem por pessoas “ invejáveis”, como alguns ídolos. A inveja seria sempre destrutiva. É um jogo onde o importante não é o que se ganha, mas o que o outro perde”, afirma Patrícia Nunes Abbud, especialista em psicologia clínica pela Universidade Sorbonne. Pesquisas demonstram que a inveja é o mais conhecido e brasileiro dos pecados capitais. Assim, o fato é que estamos cercados de “cobras”. Apropriadamente, seu símbolo é a serpente, pois o invejoso destila veneno, olha enviesado, fala com maldade, disfarça, rasteja sorrateiramente, escamoteia e ataca inesperadamente. “O verdadeiro problema da inveja não é a capacidade do indivíduo viver bem, é a sua capacidade de não viver bem. Uma das melhores formas de se entender a inveja é considerá-la a arma por excelência dos incompetentes.
Não se conhece nada que enobreça a inveja, que só visa a destruição do outro. O amor, tão universal quanto ela, é seu melhor antídoto”, define Patrícia. Ao investigar a inveja a fundo é possível descobrir que ela fere e interfere na vida daquele que é invejado. É um sentimento muito primitivo, que surge nos primeiros meses de vida do bebê, na relação com quem o alimenta. Se ele quer o alimento e não o tem, não tolera a frustração e fica com raiva de quem o detém. Esta raiva transforma-se em inveja, que faz com que o bebê queira destruir a fonte nutridora. Vem daí a importância de pais eliminarem os sentimentos de inferioridade e baixa autoestima de seus filhos e mostrarem o lado bom das situações. “Os pais devem sempre valorizar a capacidade e as potencialidades do filho, para que ele não tenha insegurança quando for atrás de suas conquistas. Assim, eles criam força para lutar pelo que querem e não perderão tempo pensando no que o outro tem”, afirma a psicóloga e psicopedagoga Silvana Parreira de Jesus.
Em outros casos a inveja vem da ausência de condição interna da pessoa invejosa de lidar com frustração, enfrentar obstáculos que existem até conseguir algo. Isso é acompanhado de um pensamento “mágico” de que o outro consegue por qualquer motivo que cria em sua mente: sorte, contatos, dinheiro, e que ele não consegue porque não tem nada disso e desconsidera que não tem o movimento de “ir atrás”.
Geralmente o invejoso reclama de tudo. “É o famoso reclamão”, diz a psicóloga, psicodramatista e terapeuta sexual Claudia Longhi. Além da reclamar muito, baixa autoestima, sentimento de incapacidade, sensação de injustiça são características comuns aos invejosos. “Geralmente, são pessoas que não acreditam em si mesmas, que ficam “esperando” conquistar aquilo que o outro conquistou e não consideram que aquilo que o invejado conquistou foi batalhado, nada “caiu do céu”. Isso o invejoso não percebe, ele acredita que “tudo vem da sorte que ele não tem”, e sente-se injustiçado, como não merecedor”, diz Claudia.O tratamento da inveja pede autoconhecimento. A psicóloga clínica e terapeuta sexual Yara Monachesi afirma que o tratamento da inveja exige, em primeiro lugar, o reconhecimento do sentimento, pois a maior parte dos invejosos não o admite. Em segundo lugar, a identificação do que faz com esse sentimento. Só então poderão ser eliminados os sentimentos hostis ligados a ela, além de promover a autoestima.”
Sentimento nunca é bom
Não existe inveja construtiva, embora popularmente se diga que sim. Se existe o sentimento de ter algo semelhante ao que outro tem, mas de forma a que esse bem ou afeto permaneça preservado, não é inveja. “Pode-se dizer que isso é o desejo de ter coisas boas, e isso é altamente positivo, pois ao mesmo tempo que impulsiona o indivíduo a fazer conquistas, não pretende destruir o que não lhe pertence”, afirma Yara Monachesi, psicóloga clínica. Na opinião da psicóloga e psicopedagoga Silvana Parreira de Jesus, a autoestima e o autoconhecimento são os responsáveis para que algumas pessoas passem a vida quase sem sentir essa emoção, que causa desmotivação em relação à sua própria vida. “Ela conhece suas limitações, seu potencial e sabe como se realizar. É uma pessoa com bastante segurança para se colocar diante das situações. A inveja que ela sente é a favor do outro, ou seja, fica feliz com a realização do outro e percebe que também pode conseguir aquilo.”
Inveja X Profissão
É mais comum homens e mulheres se incomodarem com outro da mesma faixa etária e profissão, do que alguém com características diferentes. Trata-se de um sentimento caracterizado pela sensação de inferioridade. “Tendemos a nos comparar com pessoas que estão próximas a nós e que passam pelo mesmo momento de vida que estamos vivendo. Um dos motivos de inveja é a escolha assertiva que o outro fez na profissão e como é bem-sucedido em sua carreira”, revela a empresária, educadora e executive coach Ada Maria de Assis e Silva.Na opinião de Ada, muitos invejosos negam a sua patologia e assim afundarão na mediocridade e pouco conseguirão construir para si mesmos. “O tratamento psicoterápico pode ser de grande valia para os invejosos. Penso que se os pais também não negarem essa condição e buscarem mostrar para as crianças ou adolescentes o que percebem, eles poderão ajudar a pessoa a controlar estes ímpetos comparativos e focar em seu autoconhecimento, que é a base para o autodesenvolvimento pessoal e profissional.”
SAIBA MAIS:
:: Muitas mulheres não aceitam a independência do marido, que vai jogar futebol com os amigos e chopeem noites já combinadas. Reclamam e são chamadas de ciumentas,mas não é, é a mais pura invejosa.
:: O profissional com perfil de invejoso cobiça as promoções e a carreira do próximo. O invejoso costuma ter dificuldade para se relacionar, o que torna a convivência no ambiente de trabalho difícil
:: O tratamento contra a inveja é feito por meio de terapia e mudança de comportamento. A pessoa aprende a ter autoconhecimento, a valorizar potencialidades, reconhecer seus pontos fracos e melhorá-los
:: Todos têm pontos fracos, mas podem transformá-los em pontos positivos.O invejoso que chega ao consultório geralmente tem um quadro de desmotivação, autoestima baixa, tristeza e até depressão leve. A inveja é identificada apenas no decorrer das falas e comportamentos
Fonte - Da Reportagem
Um comentário:
Muito bom, gostei muito da reportagem! Obrigada por disponibiliza-la aqui!
^_^
tudo de bom, fik com Deus!
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