terça-feira, setembro 09, 2008

SUSTENTANDO LIMITES

SUSTENTANDO LIMITES


ADA MARIA DE ASSIS E SILVA

“As crianças começam amando os pais; depois de um tempo julgam-nos; raramente – se é que algum dia o fazem – perdoam-nos.”.
Oscar Wilde

Li esta citação de Oscar Wilde há vinte anos durante a leitura do livro do psicólogo e psiquiatra infantil austríaco Bruno Bettlehein – Uma vida para seu filho.
A princípio fiquei muito incomodada com tal pensamento que me desestimulou em prosseguir na meta de ter um filho. Depois, refletindo sobre minha própria relação com meus pais desde a infância, adolescência e fase adulta, a frase me pareceu de uma verdade absoluta e me acompanha desde então.
Posso afirmar hoje que perdoei meus pais ao longo dos anos que pudemos conviver tanto através das experiências que vivi e vivo como mãe, quanto da oportunidade de ver meus pais agindo como avós amorosos e sábios com meu filho. Através da observação do relacionamento deles, descobri que também a mim foi dirigido muito afeto, muito acolhimento, paciência, prontidão, e felizmente, imposição de limites.
Como educadora e coach encontro cada vez mais crianças, adolescentes e adultos que sofrem ao tentar se adaptar a dinâmica da vida, pela falta de valores e propósitos claros e também porque não foram limitados na realização de alguns desejos. A interdição, ou seja, a possibilidade de renunciar à satisfação de um desejo exerce a função estruturante do psiquismo, portanto, a importância dada à imposição de limites é inegável nos dias atuais.
Além da tão conhecida indisciplina, desrespeito, inversão de valores e aumento da violência conhecidos na fase infantil e de adolescência pela falta de definição de limites, fronteiras definidas devem ser aplicadas também nos relacionamentos entre adultos, seja nas relações de amizade como no ambiente profissional.
Em todos os locais de trabalho, para um determinado comportamento necessário à realização de uma meta organizacional, as pessoas podem ser divididas em três grupos.
O primeiro grupo é composto por aqueles que tem vontade e capacidade de executar e de agir de forma a contribuir positivamente para o objetivo pretendido pela organização. O outro grupo é formado por aqueles que não estão dispostos a contribuir para a desejada meta da organização, mesmo que tenham capacidade para fazê-lo. O terceiro grupo fica no meio: são aqueles que às vezes estão dispostos e, às vezes, tem competências e habilidade para contribuir para o crescimento da organização.
Quando não há limites estabelecidos e as pessoas estão autorizadas a agir da forma que lhes convier, o grupo que não tem disponibilidade geralmente ultrapassa o grupo que está disposto e capaz. As pessoas tendem a priorizar os possíveis benefícios pessoais de fazer o que lhes agradar , do que focar-se nos benefícios ganhos pelo trabalho em grupo.
Quando os limites são fixados, com conseqüências para quem infringi-los, o grupo com vontade e capacidade tende a superior o grupo dos “eu e meu umbigo”, e as pessoas que formam o grupo do meio tendem a querer tornar-se mais dispostas ou mais capazes para evitar as conseqüências.
A imposição de um limite tem basicamente três partes . As duas primeiras referem-se a sua definição e a terceira é o que será feito para mante-lo. Ou seja, deve-se descrever qual o comportamento que o grupo definiu como inaceitável, quais as medidas serão tomadas para proteger e cuidar da organização no caso da outra pessoa violar a fronteira, e que medidas serão aplicadas ao infrator para manter o limite que foi previamente acordado.
A organização deve estabelecer políticas e normas para a imposição e manutenção de limites. Os métodos pelos quais as políticas são divulgadas podem ser através dos processos, procedimentos e instruções de trabalho. As políticas devem ser simples, curtas e claras, devendo haver uma clara conseqüência definida no caso do seu não cumprimento. Caso contrário, a eficácia das políticas como imposição de limites estará comprometida.
As normas são os resultados esperados, como por exemplo: "Atender ao telefone até o terceiro toque" ou "Receber o cliente com Bom Dia / Tarde / Noite, Senhor / Senhora.” Também é necessário que haja uma conseqüência do não cumprimento das normas, pois senão perderão sua eficácia.
As organizações que estabelecem limites e garantem seu cumprimento, acabam por premiar as pessoas que estão dispostas e capazes a se esforçar para atingir os objetivos da organização. Elas também motivam as pessoas que estão incertas quanto a vantagens ou desvantagens em se disponibilizarem para um bom trabalho de equipe e a desenvolverem novas capacidade para alcançar as metas necessárias.
Além disso, as pessoas perceberão mais rapidamente se seu perfil se encaixa ao exigido pela empresa, e caso não se sintam envolvidas e comprometidas a contribuir, busquem organizações que tenham exigências mais adequadas à sua capacidade e vontade.
Dar às crianças as habilidades para lidar com o mundo à sua volta é tarefa para os pais, cuidadores, e educadores. Ao combinar a liberdade de expressar e viver emoções com a fixação de limites de comportamento, os pais ajudam as crianças a aprender a encontrar soluções para os desafios que irão enfrentar à medida que crescem. Isto trará reforço para o desenvolvimento de uma auto-estima elevada, equilíbrio emocional e resiliência para o indivíduo em sua vida adulta e poupará muito trabalho aos líderes, mentores e coaches em um futuro ambiente profissional.


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