domingo, dezembro 26, 2010
terça-feira, dezembro 21, 2010
A fofoca é inevitável, mas prefira o diálogo franco
A fofoca é inevitável, mas prefira o diálogo francoMauricio Goldstein, Consultor e autor do livro JOGOS POLÍTICOS NAS EMPRESAS (undefined) 10/11/2010
Crédito: Quando penso em fofoca, a primeira coisa que me vem à mente é explorar sobre o que exatamente estamos falando. Alguns definem fofoca como uma troca de informação entre duas pessoas sobre uma terceira, sem o seu conhecimento, o que pode ser positivo ou negativo. Contudo, outras definições são um pouco mais ácidas. Há uma fonte que diz que a fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia. Segundo esse grupo, ela é quase sempre um dito maldoso, ou a divulgação de detalhe que o outro gostaria que fosse ignorado. Uma coisa é possível afirmar: a fofoca é sempre uma declaração com um juízo de valor, ou seja, uma interpretação de quem a está dizendo.
Por exemplo, numa companhia que estava passando por uma fusão, ouvi a conversa entre dois colaboradores: — Claudio, estão dizendo que o presidente da Brand será o nosso novo executivo-chefe e que o Jorge vai rodar. — Beto, não sabia disto. Onde você ouviu a informação? — Apareceu ontem nos jornais. E mais, ouvi dizer que o pessoal da Brand costuma apenas escolher pessoas de seu time. Acho que não temos chance... — E o escritório, você já sabe onde vai ser? — Não ouvi oficialmente, mas estão dizendo que eles vão fechar o nosso escritório no Morumbi e iremos todos para a Faria Lima. Para mim, vai ser uma droga pra chegar lá. Se é que eu vou estar na empresa...
Por que as pessoas fofocam no escritório? A fofoca dá alguma vantagem a quem a emite: maior influência ("eu tenho mais informações do que você"), uma redução da ansiedade ("quando falo a respeito de alguns fantasmas, sinto-me melhor"), uma cumplicidade com o interlocutor ("vale a pena ser meu amigo, pois eu posso dividir o que sei com você"), um prazer íntimo ("sinto-me bem quando conto as novidades a meus colegas"), ou alguma vantagem concreta planejada, como uma promoção, a alocação de verba para algum projeto, afetar a reputação de um "inimigo".
Nesse aspecto, a fofoca é um jogo político na organização que traz vantagem para quem a faz, mas não necessariamente para o todo. Ao mesmo tempo, sabemos que a fofoca nunca vai ser eliminada das organizações. Assim concordo com a afirmação do professor Labianca de que ela tem uma função de ajudar as informações a fluírem. Quando não existem bons canais oficiais de comunicação, as trocas vão ocorrer nos canais informais, ou seja, na conversinha do café. Quando não há clareza e transparência, a ansiedade aumenta e o ambiente fica mais propício ao disse-me-disse.
Poderíamos dizer que a fofoca é como o sangue, que encontra novos caminhos para continuar fluindo quando as veias (ou os canais formais) estão entupidas. A fofoca traz vida e evita o colapso da organização. Ela serve também como um bom instrumento diagnóstico: quando a fofoca aumenta, é sinal de que a comunicação não está indo bem e que vale a pena investigar o que está acontecendo nas entranhas da organização. Ainda, ela geralmente atua de forma a reforçar a cultura atual (como a maioria dos jogos políticos) e assim pode dificultar mudanças.
Proibir a fofoca é absolutamente inútil. É como tentar fechar a saída de um líquido sob contínua pressão: a chance de que haja alguma explosão no sistema é grande. Ou seja, considerando que sempre haverá fofoca nas empresas, é importante observar o seu movimento e compreender a sua origem. Porém, não acredito que devamos incentivar a fofoca como forma de ação e comunicação. É muito mais interessante convidar a organização para o diálogo e deixá-la saber e participar das redes informais que vão se criando, para esclarecer boatos e dúvidas, engajar os colaboradores e coordenar todas as ações na mesma direção.
FONTE: Você S/A / Desenvolva sua carreira / Edição 149 / Carreira - Comportamento | A fofoca é inevitável, mas prefira o diálogo franco
Crédito: Quando penso em fofoca, a primeira coisa que me vem à mente é explorar sobre o que exatamente estamos falando. Alguns definem fofoca como uma troca de informação entre duas pessoas sobre uma terceira, sem o seu conhecimento, o que pode ser positivo ou negativo. Contudo, outras definições são um pouco mais ácidas. Há uma fonte que diz que a fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia. Segundo esse grupo, ela é quase sempre um dito maldoso, ou a divulgação de detalhe que o outro gostaria que fosse ignorado. Uma coisa é possível afirmar: a fofoca é sempre uma declaração com um juízo de valor, ou seja, uma interpretação de quem a está dizendo.
Por exemplo, numa companhia que estava passando por uma fusão, ouvi a conversa entre dois colaboradores: — Claudio, estão dizendo que o presidente da Brand será o nosso novo executivo-chefe e que o Jorge vai rodar. — Beto, não sabia disto. Onde você ouviu a informação? — Apareceu ontem nos jornais. E mais, ouvi dizer que o pessoal da Brand costuma apenas escolher pessoas de seu time. Acho que não temos chance... — E o escritório, você já sabe onde vai ser? — Não ouvi oficialmente, mas estão dizendo que eles vão fechar o nosso escritório no Morumbi e iremos todos para a Faria Lima. Para mim, vai ser uma droga pra chegar lá. Se é que eu vou estar na empresa...
Por que as pessoas fofocam no escritório? A fofoca dá alguma vantagem a quem a emite: maior influência ("eu tenho mais informações do que você"), uma redução da ansiedade ("quando falo a respeito de alguns fantasmas, sinto-me melhor"), uma cumplicidade com o interlocutor ("vale a pena ser meu amigo, pois eu posso dividir o que sei com você"), um prazer íntimo ("sinto-me bem quando conto as novidades a meus colegas"), ou alguma vantagem concreta planejada, como uma promoção, a alocação de verba para algum projeto, afetar a reputação de um "inimigo".
Nesse aspecto, a fofoca é um jogo político na organização que traz vantagem para quem a faz, mas não necessariamente para o todo. Ao mesmo tempo, sabemos que a fofoca nunca vai ser eliminada das organizações. Assim concordo com a afirmação do professor Labianca de que ela tem uma função de ajudar as informações a fluírem. Quando não existem bons canais oficiais de comunicação, as trocas vão ocorrer nos canais informais, ou seja, na conversinha do café. Quando não há clareza e transparência, a ansiedade aumenta e o ambiente fica mais propício ao disse-me-disse.
Poderíamos dizer que a fofoca é como o sangue, que encontra novos caminhos para continuar fluindo quando as veias (ou os canais formais) estão entupidas. A fofoca traz vida e evita o colapso da organização. Ela serve também como um bom instrumento diagnóstico: quando a fofoca aumenta, é sinal de que a comunicação não está indo bem e que vale a pena investigar o que está acontecendo nas entranhas da organização. Ainda, ela geralmente atua de forma a reforçar a cultura atual (como a maioria dos jogos políticos) e assim pode dificultar mudanças.
Proibir a fofoca é absolutamente inútil. É como tentar fechar a saída de um líquido sob contínua pressão: a chance de que haja alguma explosão no sistema é grande. Ou seja, considerando que sempre haverá fofoca nas empresas, é importante observar o seu movimento e compreender a sua origem. Porém, não acredito que devamos incentivar a fofoca como forma de ação e comunicação. É muito mais interessante convidar a organização para o diálogo e deixá-la saber e participar das redes informais que vão se criando, para esclarecer boatos e dúvidas, engajar os colaboradores e coordenar todas as ações na mesma direção.
FONTE: Você S/A / Desenvolva sua carreira / Edição 149 / Carreira - Comportamento | A fofoca é inevitável, mas prefira o diálogo franco
domingo, dezembro 19, 2010
ATENDIMENTO: TREINAR É A CHAVE
ATENDIMENTO: TREINAR É A CHAVE
A excelência no atendimento ao cliente é um dos maiores diferenciais competitivos do mercado hoje em dia e um dos principais fatores para o crescimento das empresas. Ter clientes satisfeitos é o principal passaporte para se manter no mercado e pode ser a diferença entre obter sucesso ou fracassar nos negócios. Apesar disso, é comum constatar que organizações de todos os portes persistem em atendê-los com desatenção.
È fato que com os produtos estando cada vez mais semelhantes e com vida útil menor ter preço competitivo e produtos de qualidade não é mais diferencial para conquistar a preferência da clientela, e sim condições básicas desejadas. A competência profissional, a eficiência, o entusiasmo, a polidez, a rapidez e a simpatia de quem atende é o que faz o cliente ter a sensação de conforto, conveniência, praticidade e satisfação quando compra um produto ou serviço da sua empresa.
Para melhorar o padrão de qualidade do atendimento de suas empresas, os gestores devem ter como meta a superação das expectativas dos clientes. Pesquisas indicam com pequenas diferenças que 68% dos clientes deixam de comprar de uma empresa por causa do atendimento e do comportamento de seus funcionários e ainda passam a dar testemunho negativo sobre as mesmas prejudicando na captação de novos clientes.
Excelência no atendimento é fundamental. Um atendimento de qualidade pode decidir o jogo a favor da empresa quando o cliente não percebe a diferença entre o produto ou serviço oferecido em seu estabelecimento e o exibido no seu concorrente.
Treinamento é a chave. Conhecer plenamente o potencial dos colaboradores orientando-os nas melhores práticas de atendimento é acima de tudo valorizar o funcionário e prepará-lo para, também, valorizar o cliente. É inaceitável que para muitos empresários treinar e capacitar a linha de frente a agir seja um custo e não um investimento, pois não compreendem que é estrategicamente inteligente capacitar esses profissionais adequadamente, para que possam atender bem e superar as expectativas da clientela..
Um dos maiores erros cometidos por quem faz atendimento aos clientes é não descobrir o que o que cada um busca, deseja ou necessita naquele momento e assim, direcionar seu atendimento de forma individualizada a cada um. Para que os atendentes façam essa sondagem de maneira sutil e agradável, é preciso treiná-los. Atrair, converter e fidelizar clientes são etapas de um caminhar sem fim.
Ada Maria de Assis e Silva
A excelência no atendimento ao cliente é um dos maiores diferenciais competitivos do mercado hoje em dia e um dos principais fatores para o crescimento das empresas. Ter clientes satisfeitos é o principal passaporte para se manter no mercado e pode ser a diferença entre obter sucesso ou fracassar nos negócios. Apesar disso, é comum constatar que organizações de todos os portes persistem em atendê-los com desatenção.
È fato que com os produtos estando cada vez mais semelhantes e com vida útil menor ter preço competitivo e produtos de qualidade não é mais diferencial para conquistar a preferência da clientela, e sim condições básicas desejadas. A competência profissional, a eficiência, o entusiasmo, a polidez, a rapidez e a simpatia de quem atende é o que faz o cliente ter a sensação de conforto, conveniência, praticidade e satisfação quando compra um produto ou serviço da sua empresa.
Para melhorar o padrão de qualidade do atendimento de suas empresas, os gestores devem ter como meta a superação das expectativas dos clientes. Pesquisas indicam com pequenas diferenças que 68% dos clientes deixam de comprar de uma empresa por causa do atendimento e do comportamento de seus funcionários e ainda passam a dar testemunho negativo sobre as mesmas prejudicando na captação de novos clientes.
Excelência no atendimento é fundamental. Um atendimento de qualidade pode decidir o jogo a favor da empresa quando o cliente não percebe a diferença entre o produto ou serviço oferecido em seu estabelecimento e o exibido no seu concorrente.
Treinamento é a chave. Conhecer plenamente o potencial dos colaboradores orientando-os nas melhores práticas de atendimento é acima de tudo valorizar o funcionário e prepará-lo para, também, valorizar o cliente. É inaceitável que para muitos empresários treinar e capacitar a linha de frente a agir seja um custo e não um investimento, pois não compreendem que é estrategicamente inteligente capacitar esses profissionais adequadamente, para que possam atender bem e superar as expectativas da clientela..
Um dos maiores erros cometidos por quem faz atendimento aos clientes é não descobrir o que o que cada um busca, deseja ou necessita naquele momento e assim, direcionar seu atendimento de forma individualizada a cada um. Para que os atendentes façam essa sondagem de maneira sutil e agradável, é preciso treiná-los. Atrair, converter e fidelizar clientes são etapas de um caminhar sem fim.
Ada Maria de Assis e Silva
quinta-feira, dezembro 02, 2010
PORQUE É TÃO DIFÍCIL MUDAR UM COMPORTAMENTO?
Por que é tão difícil mudar um comportamento?
Por Rodrigo Ramos para o RH.com.br
A razão prevalece sobre a emoção, ou é a emoção que fala mais alto que a razão? Eis a questão! Não é à toa que o velho slogan pronunciado diversas vezes no nosso cotidiano (se conselho fosse bom!) entra como uma luva no decorrer das décadas. Por que é tão difícil mudar o comportamento de uma pessoa? Por que, mesmo através de conselhos repetitivos, existem pessoas que preferem fazer as coisas do seu jeito, mesmo sendo o jeito improdutivo ou errado? O que faz um bom conselho perder sua força?
Seguindo a visão da psicanálise, através das ideias de pensadores como Freud, Lacan e Jorge Forbes, acredito que existe uma espécie de curto circuito na relação entre mente e corpo. Isto se torna perceptível quando paramos um pouco para refletir que não somos máquinas e nem perfeitos, que mudamos nossas emoções a todo o instante, que escorregamos, erramos e que, consequentemente, também temos sonhos, fantasias e desejos que vão além da nossa ilusão racional de completude. Ou seja, a nossa razão pode desejar a perfeição, desejar que a nossa trajetória seja estável, consistente e sem erros, mas sempre existirá o outro lado da nossa intimidade que nunca poderemos controlar. E isso, paradoxalmente, é muito bom, pois nos protege da possibilidade de acreditarmos que somos figuras padronizadas, sem desejo e singularidade.
Para clarificar mais a discussão, vou discorrer o texto dividindo as ideias e diferenciando a mente racional do corpo emocional. Podemos dizer que a mente racional relaciona-se muito bem com as ideias de perfeição, de completude, daquilo que é certo e moralmente correto. Já, quando falamos do corpo emocional, levamos em consideração o lado da vida que, a maioria das vezes, não está em harmonia com as ideias impostas pela razão. O corpo emocional está mais relacionado ao inconsciente, a parte fora da série, daquilo que, segundo Chico Buarque, escapa ao sentido.
Para ilustrar melhor, podemos citar o exemplo do motorista que percorre por uma rodovia com limite (mente racional) de velocidade de 100 km/h, mas prefere (corpo emocional) dirigir a 200 km/h, porque provavelmente lhe dá mais prazer "andar fora da linha", mesmo tendo noção do excesso cometido. O corpo acaba falando mais alto! Outro exemplo clássico e interessante é o da pessoa que fuma dois maços de cigarro por dia (corpo emocional), tendo total consciência (mente racional) sobre os males que o fumo lhe causa. Ou podemos citar o comportamento da pessoa consumista, que sempre quando passa ao lado de uma loja acaba gastando uma fortuna, mesmo consciente da falta de crédito e do excesso de dívidas.
Olha só que curioso! Ao refletirmos sobre exemplos triviais, já começamos perceber que no cotidiano do humano existem constantes conflitos internos entre a mente racional e o corpo emocional, irracional e inconsciente. É por este motivo, entre outros mais, que é tão difícil mudar um comportamento da noite para o dia. Muitas vezes, acessar somente a consciência através de conselhos não é o bastante para mudar uma atitude, ou mudar um método de como fazer as coisas. É preciso ir além da consciência, pois é necessário que o seu corpo emocional, e muitas vezes, seu inconsciente sejam tocados para ocorrer êxito. Quando não existe uma transformação neste sentido, percebemos uma mudança rasa, superficial e sem força.
Para descermos mais no assunto, gostaria de propor alguns pontos de reflexão para fortalecermos a nossa discussão: vamos falar um pouco da relação entre comportamento e prazer.
A relação entre comportamento e prazer
Seguindo as trilhas de Freud, em seu Best seller, Para Além do Princípio do Prazer, podemos notar que nesta grande obra o Pai da Psicanálise expõe de forma brilhante a existência de uma energia presente no comportamento do ser humano que vai além do equilíbrio, além das necessidades básicas, que nomeou de Pulsão. Sendo simplista na explicação, podemos descrever a Pulsão como uma energia que vai além do equilíbrio, que excede os limites da harmonia, que se repete e é dotada de prazer e, ao mesmo tempo, desprazer.
Para clarificar o conceito, podemos usar o exemplo da mulher que permanece casada durante décadas com o mesmo marido, mesmo sendo violentada verbalmente e fisicamente. Todos podem escutar suas lamentações, que seu casamento é terrível, que ele não presta, porém, não tem coragem de acabar com a "estabilidade" do matrimônio. É preferível sofrer com o que se tem, para evitar a dor de nada ter. Ela vive, ao mesmo tempo, o desprazer dos insultos lançados pelo marido e o prazer de manter o casamento em "equilíbrio", de estar com alguém, mantendo a ilusão do famoso slogan: "até que a morte os separe".
Outro exemplo interessante, que ilustra o paradoxo entre um comportamento dotado de prazer e desprazer, seria do próprio dependente químico que, mesmo consciente dos males que a droga lhe causa, permanece viciado. Basta escutarmos nos noticiários o quanto é difícil e paradoxal o relacionamento do dependente com a droga: "Isso aqui não presta, só faz mal, mas não consigo viver sem".
Agora, trazendo para a realidade profissional, o mesmo acontece com as pessoas insatisfeitas e frustradas com seus empregos atuais, que ficam paralisadas na hora de tomar uma decisão para mudar o ambiente, ou de ambiente, porque se acomodam no status quo e, por este motivo, também sentem sua cota de prazer na "estabilidade" ilusória. Ou seja, podemos concluir que, mesmo prejudicadas, pessoas que permanecem com a mesma forma de pensar, de se comportar, com o mesmo padrão, relacionamento afetivo péssimo, ou com o mesmo emprego ruim, carregam suas pitadas paradoxais de prazer e desprazer. Enfim, o ser humano e suas ironias. Agora, gostaria de correlacionar tudo isso que trabalhamos com outro ponto importante: a repetição do comportamento.
O comportamento repetitivo, para o bem ou para o mal
Outro ponto de reflexão que nos ajuda a pensar sobre o que faz as pessoas permanecerem com seus comportamentos engessados, acompanhados de prazer e desprazer, é a repetição constante. Pensando de forma lógica, aquilo que causa prazer e/ou desprazer, também causa repetição. Pontos de satisfação causam repetição. Crianças costumam fazer isso constantemente. Pedem toda hora para repetir de forma incansável uma atividade que lhes trouxe satisfação corporal. Já, quando crescem e se tornam "crianças-adultas", continuam repetindo comportamentos inconscientemente prazerosos e/ou desprazerosos.
É o que acontecia com um ex-colega de trabalho, que tinha satisfação em ser espaçoso. Interrompia as pessoas, falava alto, gritava e dispersava todos repetidamente. Este era o seu "barato", o seu "jeitão" de ser, pois tinha prazer em fazer isso, mas não tinha a menor consciência dos impactos que causava nas pessoas. No entanto, quando recebeu o famoso feedback sobre seu comportamento, os problemas começaram a surgir. Passou a vivenciar conflitos entre a mente racional e o corpo emocional. Sua mente racional dizia que deveria "arrumar" seu comportamento para não invadir o espaço das pessoas e o seu corpo emocional agia conforme o jeito espaçoso (e prazeroso) de ser. Olha só! Surge novamente o paradoxo entre prazer e desprazer. Sua mente racional gritava alto, dizendo que devia mudar e isso lhe causava muito desprazer. Porém, o seu corpo emocional continuava gozando do ato e isso lhe causava prazer. Após certo tempo, não teve jeito, nosso colega de trabalho foi procurar um lugar onde pudesse aumentar seu espaço, pois o contexto cultural onde trabalhávamos não permitia pessoas desse "estilo". Uma hora ele acertará sua trajetória.
Mas o que fazer para inserir nossas diferenças comportamentais, algumas insuportáveis, na relação com os outros?
Comportamentos prejudiciais devem ser eliminados?
O que fazer para solucionar os conflitos entre mente e corpo? Será que é preciso cortar o mau pela raiz? Será que é necessário punir aqueles que se comportam de maneira improdutiva? Será que deveríamos encaminhar todos os errantes para uma clínica da "padronização", para que sejam orientados de forma ortopédica? Creio que não. Não devemos e não podemos corrigir o ser falante, engessando seu comportamento e o adequando ao contexto, mas diria que a solução, como diria Jacques Alain Miller, seria legitimar suas diferenças. Não no sentido de aceitar o comportamento destrutivo do outro. Legitimar não é deixar o outro fazer o que bem entende, mas também não significa eliminar o mau pela raiz.
Se nos espelharmos em qualquer exemplo de vida, podemos perceber que as pessoas não eliminam seus comportamentos ruins, mas simplesmente conseguem realinhar a energia para uma coisa boa, ou melhor, construtiva. Um amigo meu, que se tornou um excelente palestrante, não por acaso, quando era jovem, gostava de se exibir, contava piadas na escola e adorava provocar as pessoas. Por conta deste comportamento, passou por diversas situações complicadas até perceber que poderia transformar seu defeito em qualidade.
Percebeu que poderia reinventar sua exibição e seu jeito provocador de forma construtiva e não destrutiva, como vinha fazendo. Percebeu que poderia usar suas ferramentas, anteriormente maléficas, para estimular as pessoas a se desenvolverem através da linguagem. Meu amigo não poderia eliminar um comportamento tão enraizado no seu inconsciente corporal, mas percebeu que poderia resolver o conflito do prazer e do desprazer, canalizando sua energia, seu "barato" para algo que enriquecesse o outro. Isso passou a ser a sua missão. Ele simplesmente lapidou o seu carvão na busca eterna pelo seu precioso diamante.
Que maravilha que é o ser falante! Quanto mais consegue ajustar seus comportamentos prejudiciais, canalizando sua energia para atitudes construtivas, sem arrancar o bom "barato", consegue se aproximar daquilo que é mais singular em seu íntimo. Mas este é um assunto para outro artigo.
Faça bom proveito de si, ou como diria o filósofo Martin Heidegger - devore o teu Dasein!
Fonte: Rodrigo Ramos
Consultor da Triunfo Consultoria e Treinamento. Psicólogo, com formação em Psicanálise e vasta experiência em Coordenação de Grupos Terapêuticos. Atua há mais de 5 anos ministrando palestras e cursos nas áreas de vendas, comportamento e desenvolvimento humano, onde alia sua experiência ao dinamismo e bom humor. Uma das principais características de Rodrigo Ramos é a capacidade de estimular os participantes do grupo, fornecendo conceitos da subjetividade humana de forma pontual, construtiva e marcante. Ao longo de sua carreira liderou diversos projetos de educação, treinamento e consultoria, atuando também como facilitador em programas de Vendas de Alta Performance, comportamento e desenvolvimento de pessoas
Por Rodrigo Ramos para o RH.com.br
A razão prevalece sobre a emoção, ou é a emoção que fala mais alto que a razão? Eis a questão! Não é à toa que o velho slogan pronunciado diversas vezes no nosso cotidiano (se conselho fosse bom!) entra como uma luva no decorrer das décadas. Por que é tão difícil mudar o comportamento de uma pessoa? Por que, mesmo através de conselhos repetitivos, existem pessoas que preferem fazer as coisas do seu jeito, mesmo sendo o jeito improdutivo ou errado? O que faz um bom conselho perder sua força?
Seguindo a visão da psicanálise, através das ideias de pensadores como Freud, Lacan e Jorge Forbes, acredito que existe uma espécie de curto circuito na relação entre mente e corpo. Isto se torna perceptível quando paramos um pouco para refletir que não somos máquinas e nem perfeitos, que mudamos nossas emoções a todo o instante, que escorregamos, erramos e que, consequentemente, também temos sonhos, fantasias e desejos que vão além da nossa ilusão racional de completude. Ou seja, a nossa razão pode desejar a perfeição, desejar que a nossa trajetória seja estável, consistente e sem erros, mas sempre existirá o outro lado da nossa intimidade que nunca poderemos controlar. E isso, paradoxalmente, é muito bom, pois nos protege da possibilidade de acreditarmos que somos figuras padronizadas, sem desejo e singularidade.
Para clarificar mais a discussão, vou discorrer o texto dividindo as ideias e diferenciando a mente racional do corpo emocional. Podemos dizer que a mente racional relaciona-se muito bem com as ideias de perfeição, de completude, daquilo que é certo e moralmente correto. Já, quando falamos do corpo emocional, levamos em consideração o lado da vida que, a maioria das vezes, não está em harmonia com as ideias impostas pela razão. O corpo emocional está mais relacionado ao inconsciente, a parte fora da série, daquilo que, segundo Chico Buarque, escapa ao sentido.
Para ilustrar melhor, podemos citar o exemplo do motorista que percorre por uma rodovia com limite (mente racional) de velocidade de 100 km/h, mas prefere (corpo emocional) dirigir a 200 km/h, porque provavelmente lhe dá mais prazer "andar fora da linha", mesmo tendo noção do excesso cometido. O corpo acaba falando mais alto! Outro exemplo clássico e interessante é o da pessoa que fuma dois maços de cigarro por dia (corpo emocional), tendo total consciência (mente racional) sobre os males que o fumo lhe causa. Ou podemos citar o comportamento da pessoa consumista, que sempre quando passa ao lado de uma loja acaba gastando uma fortuna, mesmo consciente da falta de crédito e do excesso de dívidas.
Olha só que curioso! Ao refletirmos sobre exemplos triviais, já começamos perceber que no cotidiano do humano existem constantes conflitos internos entre a mente racional e o corpo emocional, irracional e inconsciente. É por este motivo, entre outros mais, que é tão difícil mudar um comportamento da noite para o dia. Muitas vezes, acessar somente a consciência através de conselhos não é o bastante para mudar uma atitude, ou mudar um método de como fazer as coisas. É preciso ir além da consciência, pois é necessário que o seu corpo emocional, e muitas vezes, seu inconsciente sejam tocados para ocorrer êxito. Quando não existe uma transformação neste sentido, percebemos uma mudança rasa, superficial e sem força.
Para descermos mais no assunto, gostaria de propor alguns pontos de reflexão para fortalecermos a nossa discussão: vamos falar um pouco da relação entre comportamento e prazer.
A relação entre comportamento e prazer
Seguindo as trilhas de Freud, em seu Best seller, Para Além do Princípio do Prazer, podemos notar que nesta grande obra o Pai da Psicanálise expõe de forma brilhante a existência de uma energia presente no comportamento do ser humano que vai além do equilíbrio, além das necessidades básicas, que nomeou de Pulsão. Sendo simplista na explicação, podemos descrever a Pulsão como uma energia que vai além do equilíbrio, que excede os limites da harmonia, que se repete e é dotada de prazer e, ao mesmo tempo, desprazer.
Para clarificar o conceito, podemos usar o exemplo da mulher que permanece casada durante décadas com o mesmo marido, mesmo sendo violentada verbalmente e fisicamente. Todos podem escutar suas lamentações, que seu casamento é terrível, que ele não presta, porém, não tem coragem de acabar com a "estabilidade" do matrimônio. É preferível sofrer com o que se tem, para evitar a dor de nada ter. Ela vive, ao mesmo tempo, o desprazer dos insultos lançados pelo marido e o prazer de manter o casamento em "equilíbrio", de estar com alguém, mantendo a ilusão do famoso slogan: "até que a morte os separe".
Outro exemplo interessante, que ilustra o paradoxo entre um comportamento dotado de prazer e desprazer, seria do próprio dependente químico que, mesmo consciente dos males que a droga lhe causa, permanece viciado. Basta escutarmos nos noticiários o quanto é difícil e paradoxal o relacionamento do dependente com a droga: "Isso aqui não presta, só faz mal, mas não consigo viver sem".
Agora, trazendo para a realidade profissional, o mesmo acontece com as pessoas insatisfeitas e frustradas com seus empregos atuais, que ficam paralisadas na hora de tomar uma decisão para mudar o ambiente, ou de ambiente, porque se acomodam no status quo e, por este motivo, também sentem sua cota de prazer na "estabilidade" ilusória. Ou seja, podemos concluir que, mesmo prejudicadas, pessoas que permanecem com a mesma forma de pensar, de se comportar, com o mesmo padrão, relacionamento afetivo péssimo, ou com o mesmo emprego ruim, carregam suas pitadas paradoxais de prazer e desprazer. Enfim, o ser humano e suas ironias. Agora, gostaria de correlacionar tudo isso que trabalhamos com outro ponto importante: a repetição do comportamento.
O comportamento repetitivo, para o bem ou para o mal
Outro ponto de reflexão que nos ajuda a pensar sobre o que faz as pessoas permanecerem com seus comportamentos engessados, acompanhados de prazer e desprazer, é a repetição constante. Pensando de forma lógica, aquilo que causa prazer e/ou desprazer, também causa repetição. Pontos de satisfação causam repetição. Crianças costumam fazer isso constantemente. Pedem toda hora para repetir de forma incansável uma atividade que lhes trouxe satisfação corporal. Já, quando crescem e se tornam "crianças-adultas", continuam repetindo comportamentos inconscientemente prazerosos e/ou desprazerosos.
É o que acontecia com um ex-colega de trabalho, que tinha satisfação em ser espaçoso. Interrompia as pessoas, falava alto, gritava e dispersava todos repetidamente. Este era o seu "barato", o seu "jeitão" de ser, pois tinha prazer em fazer isso, mas não tinha a menor consciência dos impactos que causava nas pessoas. No entanto, quando recebeu o famoso feedback sobre seu comportamento, os problemas começaram a surgir. Passou a vivenciar conflitos entre a mente racional e o corpo emocional. Sua mente racional dizia que deveria "arrumar" seu comportamento para não invadir o espaço das pessoas e o seu corpo emocional agia conforme o jeito espaçoso (e prazeroso) de ser. Olha só! Surge novamente o paradoxo entre prazer e desprazer. Sua mente racional gritava alto, dizendo que devia mudar e isso lhe causava muito desprazer. Porém, o seu corpo emocional continuava gozando do ato e isso lhe causava prazer. Após certo tempo, não teve jeito, nosso colega de trabalho foi procurar um lugar onde pudesse aumentar seu espaço, pois o contexto cultural onde trabalhávamos não permitia pessoas desse "estilo". Uma hora ele acertará sua trajetória.
Mas o que fazer para inserir nossas diferenças comportamentais, algumas insuportáveis, na relação com os outros?
Comportamentos prejudiciais devem ser eliminados?
O que fazer para solucionar os conflitos entre mente e corpo? Será que é preciso cortar o mau pela raiz? Será que é necessário punir aqueles que se comportam de maneira improdutiva? Será que deveríamos encaminhar todos os errantes para uma clínica da "padronização", para que sejam orientados de forma ortopédica? Creio que não. Não devemos e não podemos corrigir o ser falante, engessando seu comportamento e o adequando ao contexto, mas diria que a solução, como diria Jacques Alain Miller, seria legitimar suas diferenças. Não no sentido de aceitar o comportamento destrutivo do outro. Legitimar não é deixar o outro fazer o que bem entende, mas também não significa eliminar o mau pela raiz.
Se nos espelharmos em qualquer exemplo de vida, podemos perceber que as pessoas não eliminam seus comportamentos ruins, mas simplesmente conseguem realinhar a energia para uma coisa boa, ou melhor, construtiva. Um amigo meu, que se tornou um excelente palestrante, não por acaso, quando era jovem, gostava de se exibir, contava piadas na escola e adorava provocar as pessoas. Por conta deste comportamento, passou por diversas situações complicadas até perceber que poderia transformar seu defeito em qualidade.
Percebeu que poderia reinventar sua exibição e seu jeito provocador de forma construtiva e não destrutiva, como vinha fazendo. Percebeu que poderia usar suas ferramentas, anteriormente maléficas, para estimular as pessoas a se desenvolverem através da linguagem. Meu amigo não poderia eliminar um comportamento tão enraizado no seu inconsciente corporal, mas percebeu que poderia resolver o conflito do prazer e do desprazer, canalizando sua energia, seu "barato" para algo que enriquecesse o outro. Isso passou a ser a sua missão. Ele simplesmente lapidou o seu carvão na busca eterna pelo seu precioso diamante.
Que maravilha que é o ser falante! Quanto mais consegue ajustar seus comportamentos prejudiciais, canalizando sua energia para atitudes construtivas, sem arrancar o bom "barato", consegue se aproximar daquilo que é mais singular em seu íntimo. Mas este é um assunto para outro artigo.
Faça bom proveito de si, ou como diria o filósofo Martin Heidegger - devore o teu Dasein!
Fonte: Rodrigo Ramos
Consultor da Triunfo Consultoria e Treinamento. Psicólogo, com formação em Psicanálise e vasta experiência em Coordenação de Grupos Terapêuticos. Atua há mais de 5 anos ministrando palestras e cursos nas áreas de vendas, comportamento e desenvolvimento humano, onde alia sua experiência ao dinamismo e bom humor. Uma das principais características de Rodrigo Ramos é a capacidade de estimular os participantes do grupo, fornecendo conceitos da subjetividade humana de forma pontual, construtiva e marcante. Ao longo de sua carreira liderou diversos projetos de educação, treinamento e consultoria, atuando também como facilitador em programas de Vendas de Alta Performance, comportamento e desenvolvimento de pessoas
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