Coaching: sucesso além dos resultados profissionais
Luiz David Carlessi
Ainda é muito claro na minha memória quando meu pai me ensinou a consertar carros. Naquela época, essa era uma atividade comum aos filhos que aprendiam as "artes manuais" com seus pais. Com o passar do tempo, aprendi um pouco do artifício de consertar automóveis, mas como era de se esperar, a facilidade de enviar o veículo para um profissional, tornou nossa vida mais prática e acessível – e deixei a atividade de lado.
Embora eu não tenha me tornado exímio naquela atividade, as lições aprendidas naquele, e em outros momentos da minha vida, mostraram a importância de ter alguém que nos oriente, que abra o caminho e mostre o valor de construir algo por si próprio. Hoje, vejo que o processo de coaching é bem parecido com a experiência infantil, já que está diretamente atrelado a um profundo relacionamento entre orientador e orientado.
O primeiro se despe de uma postura que o distancia do orientado (de dono da verdade e da razão) para uma postura de guia, de condutor, colocando-se a serviço, construindo o caminho pelo qual o orientado irá construir o seu aprendizado. Apesar de o orientador guiar o orientado, a construção do aprendizado é de responsabilidade e mérito do segundo. É ele quem vai traçar seu caminho e assumir os riscos e benefícios disso. Trata-se de um "contrato" entre ambos que segue uma estrutura bem definida, na qual uma pessoa se compromete a apoiar a outra a atingir um resultado, seja ele de adquirir competências e/ou produzir uma mudança específica. É um compromisso que vai além dos resultados; com o indivíduo, com a pessoa como um todo, seu desenvolvimento e seu sucesso.
Por meio do coaching, surgem novas competências, tanto para quem exerce o papel de coach quanto para quem o absorve. Não se trata apenas de competências técnicas ou capacidades específicas, já que é mais do que treinamento, e o orientador permanece com a pessoa até o momento em que ela atinge o resultado esperado em toda sua plenitude. Aliás, a questão de resultados é um fator fundamental no processo de coaching, pois o termo por si só, pressupõe a obtenção de efeitos claros, negociados e dentro de uma dimensão de tempo bem estabelecida.
O ICF (International Coaching Federation) conceitua coaching como: descobrir, esclarecer e ficar alinhado com o que o orientado deseja alcançar; encorajar a autodescoberta; trazer à tona as estratégias e soluções geradas pelo orientado e mantê-lo como responsável e encarregado pelo seu processo de desenvolvimento. Podemos dizer também que é o método de incremento de competências; investigação e reflexão que leva à descoberta de fraquezas e qualidades e ao aumento da consciência de si.
Em outras palavras, podemos dizer que é um processo que ajuda a pessoa a mudar da maneira que ela quer e a caminhar na direção que acredita ser a melhor. Ajuda, ainda, indivíduos e organizações a se desenvolverem mais rápido e a produzirem resultados mais satisfatórios; potencializa escolhas e leva a mudanças; libera o potencial da pessoa a maximizar o seu desempenho. Mais do que ensinar, o coaching ajuda as pessoas a aprender.
O coach desenvolve todos os aspectos da competência para que o líder possa executar bem sua tarefa e preferencialmente atinja um desempenho conhecido como peak performance. Ao contrário dos workaholics, pessoas viciadas em atividades, a pessoa que trabalha em peak performance é focada em resultados.
A pessoa em peak performance é capaz de gerar resultados sem comprometer sua existência humana. O que denota, portanto, que o desenvolvimento exigido abrange todas as áreas da vida: profissional, financeira, física, ontológica, social, relacionamento íntimo, intelecto, emocional e lazer. E é justamente por atingir outros aspectos do ser humano que o coaching desenvolveu-se para além das competências empresariais.
O processo de coaching pode ser aplicado em diferentes áreas: coaching de vida; coaching executivo; coaching de carreira; coaching de desenvolvimento pessoal que pode ser orientado para criação de habilidades, melhoria do desempenho; desenvolvimento pessoal, construção e desenvolvimento de equipe e coaching esportivo. É fundamental que a atividade e o processo de coaching sejam bem estruturados e desenvolvidos em empresas e tantas outras áreas de atividade, para que haja ganhos significativos, tanto no aspecto de resultados quanto no aspecto de crescimento e desenvolvimento pessoal.
Dessa forma, o líder não deve apenas treinar colaboradores focando somente o desempenho organizacional. Ele precisa:
- formar profissionais e fomentar o autodesenvolvimento;
- impulsionar o desejo de melhorar ao longo do tempo e se tornar mais produtivo;
- saber usar linguagem apropriada ao nível da habilidade, da linguagem e da cultura do colaborador que está sendo treinado;- dar instruções claras;
- ter paciência;
- demonstrar as habilidades a serem desenvolvidas;
- acompanhar;
dar exemplos pertinentes ou fazer analogias;
- providenciar recursos, materiais ou equipamentos;
- estar sempre à disposição para orientar e responder perguntas;
- estar disponível quando surgirem problemas;
- conhecer profundamente o assunto a ser transmitido
Luiz David Carlessi
É consultor do IDORT/SP em processos de mudança, preparação de times de trabalho para processos de Reengenharia e Qualidade Total, treinamentos comportamentais e desenvolvimento de habilidades e atitudes gerenciais.